sexta-feira, outubro 18, 2013

Gravidade

Muito perspicaz essa ideia de (logo quem) Alexander Payne sobre Gravidade: "Sandra Bullock numa casa mal-assombrada". O filme é exatamente isso, um exercício superbásico e tecnicamente impecável de movimento, um trem fantasma, uma correria pra lá e pra cá pra salvar a vida, um Tom & Jerry em que o perseguidor é o limite do oxigênio. Enfim, é uma montanha russa, e diz muito sobre o nosso tempo que um filme com as ambições de um parque temático receba os tipos de elogio que têm sido atirados na sua direção. Eu gostei do filme, mas ele é muito bom não por uma suposta profundidade e sim por ser mais um elemento continuador numa linhagem que vai de A General a Encurralado, com as devidas proporções guardadas, obviamente.

terça-feira, outubro 08, 2013

The Bling Ring

Filipe Furtado escreveu um texto na Cinética relacionando Sem Dor, Nem Ganho, de Michael Bay, e The Bling Ring, de Sofia Coppola, que eu pessoalmente acho um dos melhores filmes do ano. Para Furtado, a carreira da Coppola está cada vez menos interessante, e isso seria consequência de uma imobilidade autoral, de um estar à vontade em filmar o que sabe de um ponto de vista já estabelecido e mapeado, ponto de vista este que a diretora sabe que vende bem.

Eu tenho a impressão contrária: acho que a depuração (que Furtado bem nota) dramatúrgica progressiva em sua carreira tem transformado o seu cinema em algo bem diferente do que era antes, e acho que The Bling Ring é um ápice de distanciamento. Jogar para a plateia, no caso dela, seria continuar adoçando a melancolia dos seus primeiros filmes, com aquela preguiça meio Wes Anderson, mas eu vejo a Coppola se afastando disso. Para mim, não procede essa identificação do deslumbramento dela e dos personagens do filme. Aliás, a secura com que ela filma beira a misantropia, mas, felizmente, está a centímetros da linha que define a humanidade de seus adolescentes, só que do lado certo.

Também me chama a atenção como ela parece romper essas linhas que presumimos biográficas entre os seus protagonistas anteriores e si mesma, algo que chamava atenção em todos os filmes: algo do isolamento e do privilégio, sim, mas da sensibilidade e do tédio, podia traçar uma linha bem clara entre a diretora e aspectos das personagens dos seus quatro primeiros filmes, o que não me parece o caso agora.

Por mais que habitem o mesmo universo, Sofia e o Bling Ring são seres bem diversos de um mesmo universo, e isso pra mim é um claro movimento autoral, em oposição a essa suposta imobilidade: Sofia está filmando os outros, e seu olhar me parece muito bem estudado e calculado, no bom sentido da palavra. Ela sabe se posicionar e definir pessoas, locais, presenças, comportamentos, sem que pareça ter um investimento pessoal mas com um registro completamente seu. Ela me parece pronta pra se mover mais ainda para longe de sua "zona de conforto", e não acomodada. Nem Air toca mais (toca?), vejam só.

quinta-feira, outubro 03, 2013

Antes da Meia-Noite

Filme desagradável esse Antes da Meia-Noite, meio que um choque de realidade depois dos doces dois primeiros filmes, cheios de observações legais sobre gente e sobre a vida de jovens e adultos em geral, mas mantendo a parte ruim do pacote de longe, meio camuflada na nossa esperança de que aquele romance enfim desse certo. Nove anos depois, a impressão de que vemos, enfim, a complicação do ever after, como se flagrássemos a Cinderela e o Príncipe Encantado 10 anos depois do casamento, com o amor claramente presente e vivo ainda, mas acompanhado de todos os obstáculos que uma vida em comum pode trazer. É esse o objeto do filme, isso que sobra quando a paixão vai embora, o amor-amor, que retira as barreiras românticas para que insatisfações venham à tona e se interponham entre o casal, por mais banais que sejam essas insatisfações. Não sei se eu queria ver Jesse e Celine em discussões tão comezinhas, mas agradeço a Richard Linklater por não nos ter poupado. Seu filme é forte.