sábado, dezembro 27, 2014

Os melhores de 2014

Bom, chegou a hora. Vale sempre a ressalva de que essa lista é baseada no circuito comercial de Salvador, e de que perdi muita coisa, ainda mais esse ano, por ter passado menos de 20 dias na cidade. Faltaram filmes importantes de diretores que queria ver (de estreias bombadas como Relatos Selvagens e O Abutre aos novos de Ferrara, Bonello, etc), mas, enfim, são as limitações que enfrento. Ainda assim, pude ver filmes muito bons, e, embora seja uma lista inferior aos anos anteriores, ainda acho que houve pontos muito altos.


Antes disso, os cinco filmes que quase chegaram ao top 10, sem nenhuma ordem em especial:


Uma Relação Delicada, de Catherine Breillat
Praia do Futuro, de Karim Aïnouz
Filha Distante, de Carlos Sorín
Balada Para um Homem Comum, de Ethan Coen e Joel Coen
Quando Eu Era Vivo, de Marco Dutra

Abaixo, o top 10, no qual cada filme é acompanhado de uma sugestão para sessão dupla, sugestão completamente pessoal, da minha cabeça. Cinema é continuum, claro, os filmes não se encerram neles mesmos. Enfim:


10 - Garota Exemplar, EUA, de David Fincher
Filme romântico de David Fincher, inspirado no suspense de Hitchcock e suas louras glaciais que renascem para acertar em Truffaut: o sexo como um thriller, o casamento como um sequestro, o amor como a Síndrome de Estocolmo.
Sessão dupla com: A Sereia do Mississipi, de François Truffaut

9 - Glória, Chile, de Sebastian Lélio
Biografia de uma mulher comum, andando em círculos a dançando sozinha numa idade na qual o número de segundas chances (no amor, no trabalho, na vida) diminui drasticamente. Um filme que adora a sua atriz a ponto de tê-la em absolutamente todos os seus frames, ela responde de volta com incrível entrega e energia. A intimidade é desconcertante.
Sessão dupla com: A Mulher sem Cabeça, de Lucrecia Martel.

8 - No Limite do Amanhã, EUA, de Doug Liman
Até que enfim um filme de ação! Integração muito inteligente da ideia de videogame no cinema, em outro ângulo - não interessa aqui ser o herói, achar que vai destruir tudo, e sim a exaustão das “vidas” infinitas, de ficar preso num estágio, e insistir até passar, aprendendo por tentativa e erro.
Sessão dupla com: Invasores de Corpos, de Philip Kaufman.

7 - Era Uma Vez em Nova York, EUA, de James Gray
Não é o melhor filme de James Gray, mas o seu talento operático para o melodrama continua notável, e o seu detalhismo estilizado, curiosamente, opera como uma forma de realismo, mesmo que interno. Parece over, mas não há uma nota falsa sequer nas suas emoções. Bônus: a fotografia do gênio iraniano Darius Khondji.
Sessão dupla com: Lanternas Vermelhas, de Zhang Yimou.


6 - Eles Voltam, Brasil, de Marcelo Lordello
Um filme muito delicado sobre intimidade, sobre registrar sentimentos bem de perto, em pequenas reações ao mundo: no intervalo de alguns dias, olhos abertos para todo o mundo, para estar só, sem os pais, para conhecer realidades diferentes, para se redescobrir em casa e se sentir estranho do mesmo jeito - enfim, para aprender a prestar atenção em tudo.
Sessão dupla com: O Espírito da Colmeia, de Victor Erice.


5 - 12 Anos de Escravidão, EUA, de Steve McQueen
Certamente uma escolha impopular na cinefilia, afinal o filme cometeu o pecado de ganhar o Óscar, mas me parece um avanço imenso em relação à pretensão enjoada de Shame e ao virtuosismo juvenil mas certamente impressionante de Hunger. No cinema, McQueen finalmente se descobre como narrador e faz um filme límpido e até um pouco despersonalizado, mas impecável no seu storytelling. Pense em diretores como Wyler e Stevens.
Sessão dupla com: Shane, de George Stevens.


4 - Sob a Pele, Inglaterra, de Jonathan Glazer
A viagem “de arte” do ano, filme hipnótico dos infernos, ou do espaço sideral, dono de um clima e uma atmosfera que lhe são exclusivas. Curiosamente, outro filme sobre a letalidade da mulher, que vira o jogo e manipula os homens com alguma facilidade.
Sessão dupla com: Desejo Profano, de Shohei Imamura


3 - Uma Família em Tóquio, Japão, de Yoji Yamada
Fica mais fácil se a gente esquecer que é um remake de Ozu, mas o filme tem força própria, e mais ainda se a gente esquece da sua fonte. Ozu era muito específico no seu tempo, fazendo filme sobre presente e passado. Atualizados para hoje, todos os personagens são “presente”, mas fica o que havia de universal não só no cinema do grande mestre, mas em toda uma tradição japonesa de cinema. É um filme humanista como nenhum outro neste ano.
Sessão Dupla com: Sonata de Tóquio, de Kiyoshi Kurosawa


2 - Vidas ao Vento, Japão, de Hayao Miyazaki
Um filme sobre a obsessão de ser artista, mesmo quando a arte aproxima o autor de pactos mefistotélicos. Criar, para um artista, é condição de existência - como sobreviver quando essa arte vira instrumento da barbárie?
Sessão dupla com: Pinceladas de Fogo, de Im-Kwon Taek


1 - Amar, Beber e Cantar, França, de Alain Resnais
Outro “último” filme, só que, à diferença de Miyazaki, com Resnais é irreversível, dada a sua morte três semanas após a estreia. Estava, no entanto, no topo da sua arte e desprendimento, fazia o que queria com o cinema: Aqui, são apenas atores a falar na frente de cenários artificiais, sem que isso, no entanto seja teatro, como parece: Resnais isola o cinema como arte visual, e isola o seu diferencial da pintura, a palavra. É um tipo de cinema quase puro, não fosse tão livre de se prender a qualquer projeto de depuração. Ele é isso, e pronto.
Sessão dupla com: O Mistério Picasso, de Henri-Georges Clouzot

Três atores:

1 - Oscar Isaac, Balada Para um Homem Comum
2 - Philip Seymour Hoffmann, O Homem Mais Procurado
3 - Alejandro Awada, Filha Distante

Três atrizes:

1 - Marion Cotillard, Era Uma Vez em Nova York
2 - Paulina García, Gloria
3 - Julia Louis-Dreyfus, À Procura do Amor