sexta-feira, abril 02, 2010

Pílulas

O tempo é escasso, os filmes são muitos... Vamos de um parágrafo para cada um:

Ilha do Medo - Scorsese sempre funciona muito com o pé no acelerador, e o sinal de que ele está em seus dias mais endiabrados vem logo no início, com uma trilha que marreta o personagem de Leonardo DiCaprio. Se o suspense pode ser previsível, o percurso até a revelação final passa longe disso. Há sempre a expectativa de como cada cena vai ser finalizada, enquadrada, musicada. O filme mais insinuante de Scorsese em muito tempo, pulsante, delirante, barroco, especialmente num flashback maravilhoso roubado da trilogia alemã de Visconti. Suntuoso e demente.


DiCaprio, mais uma vez excelente

O Fantástico Sr. Raposo - Pode-se argumentar que Wes Anderson nunca gostou muito de gente e não se pode criticá-lo pela afetação permanente que assola seus filmes e personagens. Seu cinema de brinquedo e casa de bonecos pode até ter seu efeito, mas pra mim esse efeito continua sendo a ilustração de um climão melancólico e cool. Tem gente que se emociona com esses construtos, mas pra mim seu cinema é da maior esterilidade. Dito isso, ao menos esse desenho é bem divertido. Só não tem alcance.

Onde Vivem os Monstros - Não deixa de ser outra excentricidade indie, mas não dá pra negar que Spike Jonze tem sensibilidade e, principalmente, talento. Tirando a ex-mulher Sofia Coppola, ele é o cara que melhor filma nessa geração de meninos ricos, entediados e tristonhos de all-star surgida no fim dos anos 90. Ainda assim, o filme evapora - não com a irritação causada pelo coleguinha francês Michel Gondry, mas com a mesma irrelevância.

Indie onírico

Simplesmente Complicado - Apesar de a indústria ter reconhecido este ano a força de uma mulher diretora com o Oscar de direção entregue a Kathryn Bigelow, os nomes fortes de Hollywood do gênero ainda são Nora Ephron e essa Nancy Meyers... Complicado. O filme é de uma mediocridade assustadora, cheio de piadas sem graça e inofensivamente machistas (mulheres devem rir de clichês atribuídos a elas mesmas). Meryl Streep é ótima comediante, mas não sabe escolher filmes. A exemplo de Do Que as Mulheres Gostam, a melhor atuação é masculina, com Alec Baldwin defendendo de maneira sensacional o arquétipo do canalha sedutor e vulnerável que Mel Gibson já interpretou. Mas é só.

O Segredo de Seus Olhos - Esse argentino é uma puta oportunidade perdida. O cara tem um policial nitroglicerina pura, com aquela mistura de política e gênero que ninguém consegue fazer aqui no Brasil, mas sabota seu filme com toneladas de açúcar via historinha de amor mais desnecessária desde não sei quando. O roteiro do policial tem lances realmente brilhantes, material que renderia absurdamente na mão do coreano Bong Joon-ho, ou do David Fincher de Zodíaco, mas o câncer da pieguice não deixa. De qualquer jeito, o que é bom no filme é tão bom que a sensação de boa vontade permanece. Para um grande filme policial argentino recente, ver El Aura, do finado Fabien Bielinsky.