domingo, março 17, 2019

A Casa Que Jack Construiu:


1) Espero sinceramente que Lars Von Trier esteja em suicide watch. É um filme final com todas as letras, como o 24 Frames de Kiarostami, ou o A Prairie Home Companion, de Altman, com a diferença de que LVT parece estar se esvaindo sem nenhuma paz. É um filme agônico pra ele.
2) E é um filme agônico para nós, também. É provavelmente o pior filme dele, mesmo contando o computadorizado The Boss of it All - parece que agora ele está fazendo um filme ruim, mas com todo o empenho possível, algo que nem sempre é o caso. Ele disse que escreveu Anticristo com apenas 10% da inteligência que tem, se não me engano.
3) A Casa Que Jack Construiu é um filme de síntese, mas são duas horas e meia de reafirmação da crueldade humana e de um niilismo juvenil, tudo isso num formato de diálogo grego entre o protagonista e o diabo, algo que coloca a obra nessa leva de nouvelle vague do power point, em que diretores montam uma tese e usam a dramaturgia quase como uma concessão para ilustrar essa tese, apenas porque não queriam mostrar ao público apenas uma Ted Talk (faltam a todos a coragem de Malle e seu Meu Jantar Com André). Comparem o LvT com Vice, de Adam McKay - são basicamente o mesmo filme. Só falta o laser sobre os slides travestidos de ficção.
4) É curioso como LvT pode estar na merda, mas o ego continua gigantesco. A "autocrítica" aqui não de fato é uma autocrítica; o tom autodepreciativo é mais uma qualidade, "vejam como não me levo a sério". No final das contas, até isso se esvai quando ele escancara que está fazendo uma defesa da própria carreira, com um medley de cenas de seus filmes anteriores, sempre das cenas mais cruéis - quanta cabotinagem! Nem a queda ao inferno é um julgamento de verdade, é um acidente.
5) Acho que não vale a pena cobrar o diretor pela falta de sutileza ao comparar seus filmes com assassinatos. LvT nunca foi sutil. Ele é o tipo de gente que faz um filme sobre depressão e transforma a doença num planeta gigante que vai provocar o apocalipse, planeta esse chamado de MELANCOLIA, um filme bem ruim, aliás. Ele botou sinos no céu para sinalizar um milagre, e o filme - Ondas do Destino - era brilhante.
6) A questão não é a qualidade da metáfora - que, aliás, já rendeu um dos melhores filmes do mundo, A Tortura do Medo, de Michael Powell -, mas a falha completa em transformar essas ideias em cinema. Depois de 15 minutos de masturbação intelectual sobre temas batidos e rebatidos nos filmes dele mesmo, a sensação é de um gigantesco "quem se importa?", e ainda faltam duas horas e meia.
7) No mais, deixo vocês com Douglas Sirk.