quarta-feira, janeiro 21, 2009

Melos into drama

O primeiro filme que vi do outro lado do oceano nada tem a ver com a África, com viagens, estrangeiros, jornalismo, nada disso. Decidi por uma primeira sessão absolutamente impessoal, mas os gênios insistem em nos contrariar: graças ao poder do alemão Max Ophuls, os sofrimentos de Werther, por uma hora e meia e muito mais, também são nossos.


O filme é do fim dos anos 30, feito na França, mas a paixão desmedida expressa em travellings lancinantes reforçam mais uma vez a ideia de que Ophuls nasceu no século errado, e que, se o cinema já existisse na época do romantismo, ele filmaria da mesma maneira. Werther pode não ser sua obra-prima (Carta de Uma Desconhecida, Desejos Proibidos), mas tem algumas de suas cenas mais fortes.

A melhor é a da câmera correndo pela casa como se fosse mais um dos serviçais preocupados com o sofrimento de Charlotte, enquanto ela se debate ao ouvir os sinos da igreja, que tocam a música a ela dedicada por Werther. Quando o marido chega em casa, ela é obrigada a se recompor e desfazer a comoção, em primeiro plano. São segundos dos mais sublimes já filmados.

***

Claudio Leal diz nos comentários do post sobre A Troca que não gosto de melodramas, a não ser os mais antigos. Este desafio é, como diria Mario Puzo, uma proposta que não posso recusar. A seguir, e sem pensar muito, dez melodramas modernos, de 1990 até agora. Obviamente o período não é muito fértil, mas isso vale para todo o cinema de gênero.


Ainda assim, a qualidade desses filmes é inquestionável: o arrebatamento bíblico de Lars von Trier, a economia narrativa de Clint Eastwood e o deslumbramento visual de Wong Kar-wai serão reconhecidos em cem anos como pontos altos da arte cinematográfica. Brokeback Mountain não é muito diferente em narrativa e qualidade de As Pontes de Madison, e poderia ter sido dirigido pelo próprio Clint Eastwood.




A Época da Inocência, luxuosa homenagem de Scorsese a Visconti via Edith Wharton, se afirma cada vez mais, junto com New York, New York, como o fime mais subestimado da carreira do diretor. O sirkiano Longe do Paraíso, por sua vez, foi aclamado, mas os mesmos Oscars que legitimaram Menina de Ouro acabaram jogando contra a fama de O Paciente Inglês, obra com a marca de um David Lean: infinita delicadeza num cenário de dimensão épica. Vestígios do Dia, provavelmente o melhor Ivory, retoma o mesmo Lean menos famoso da obra-prima Desencanto, sobre um amor abotoado e britanicamente proibido.

1) Ondas do Destino, de Lars von Trier
2) As Pontes de Madison, de Clint Eastwood
3) Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-wai
4) Dançando no Escuro, de Lars von Trier
5) O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee


6) A Época da Inocência, de Martin Scorsese
7) Longe do Paraíso, de Todd Haynes
8) Menina de Ouro, de Clint Eastwood
9) O Paciente Inglês, de Anthony Minghella
10) Vestígios do Dia, de James Ivory

Um comentário:

Andreia Santana disse...

A lista é perfeita, redime você, com certeza, de não ter gostado de A Troca.