quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Sessão Bola Preta

Não quero falar de Oscar, até porque ainda tem muita coisa para ver e o assunto tá enchendo tanto o saco quanto Lost (e vejam só, Lost é o pior assunto da Terra e além). Vamos atualizar o movielog então, que, em termos de qualidade, não anda nada bem.

O primeiro lixo é a imensa decepção do Anticristo, de Lars von Trier. Já escrevi por aqui umas duzentas vezes o quanto ele é genial, doido, anormal, etc, mas ver esse filme dá a sensação de que praticamente nada restou do cara que fez Ondas do Destino.

A fruta está podre desde o miolo, um fiapo de roteiro cheio de diálogos infantis travestidos de psicanálise, que, depois, acabam se convertendo em metáfora sociológica.



Com esse ponto de partida, não tem como dar certo, porque a base da qualidade do cinema dele é justamente o roteiro, o texto, a capacidade de armar situações aterrorizantes primeiramente em sua forma escrita.

Todo mundo observa as repetidas revoluções de imagem por ele trazidas, mas a verdade é que tudo isso sempre veio de scripts implacáveis, finos e clássicos, com a sempre presente referência de Barry Lyndon, de Kubrick.

Se o texto não sai, esse demônio da imagem fica girando no vazio, tentando injetar força num blá blá blá tolo e pretensamente bergmaniano na sua vontade de fazer um chamber drama de horror.

Em vez de peso e profundidade, Anticristo parece estranhamente publicitário, como um filme tirado e espertinho de Heitor Dhalia. A pretensão e a plasticidade da imagem me fazem lembrar aquele terrível Nina, que queria ser Dostoievski. Enfim, o resultado é que o filme nem chega a sair do lugar, e debate-se furiosamente como uma barata deitada sobre a própria carapaça.

Em tempo: pela primeira vez num filme de Lars von Trier, os atores estão terríveis - mesmo Charlotte Gainsbourg, premiada em Cannes.

Pra comprovar que Manderlay iniciou uma fase nada feliz de Von Trier, vi também, e em atraso, O Grande Chefe. Eu queria dizer que é uma porcaria, mas nem mesmo a paixão pra isso o filme desperta. Não é "revoltantemente" ruim como Anticristo. É nulo.

Se Lars von Trier ao menos tem um passado a zelar, o que dizer de Michel Gondry? A Natureza Quase Humana e Sonhando Acordado são dos piores filmes que eu já vi, e o segundo é pior ainda, tortura chinesa indie com aquela direção de arte metida a besta que a gente vê nos filmes desses clipeiros e de alguns cineastas falsos-gênios, como Wes Anderson.

Eu reclamava de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, mas ali pelo menos há uma tentativa de usar esse espalhafato espetaculoso a serviço de alguma coisa que não seja a própria "inventividade". Ô, cansaço...

2 comentários:

Diego D. disse...

O cartaz é massa.
Engraçado que estava pensando em Lars Von Trier hoje no ônibus, enquanto passava perto do Engenho Velho da Federação.
Ele bem que podia fazer um filme lá.
Abraços.

André Setaro disse...

Sua raiva contra Lars Von Triers parece que extrapola as fronteiras de seu cinema. Há um elemento volitivo, que se pode ler no texto, que dá a impressão de que o realizador dinamarquês mereceria um soco na cara. Concordo em partes, como gostava de dizer Jack, o estripador. Há, em 'O Anticristo', uma pretensão megalomaníaca. E 'O grande chefe' é, simplesmente, um filme nulo, que, visto isoladamente, dá impressão de ser obra de um péssimo cineasta. Mas 'Ondas do destino' é mesmo insuperável. O filme, quando o vi no Art 2, me arrebatou.