Qualquer cinéfilo iniciante conhece a criação estudada e venenosa de Bette Davis. Um mais iniciado, devido ao culto cada vez mais ensurdecedor e merecido a John Cassavetes, com certeza já deu de cara com a atormentada estrela de Gena Rowlands. O filme do polonês Andrzej Zulawski, no entanto, permanece dolorosamente pouco visto, celebrado. É o mais radical dos três, e talvez por isso, o menos redondo. Indispensável, mesmo assim.
Assim como Rowlands, Schneider entrega uma das interpretações mais intensas e à flor da pele da história, tirada da carne, numa instabilidade de corpo inteiro. Sua atriz pornô com aspirações dramáticas não fica um minuto parada na tela, a não ser em breve closes: é como se os 24 quadros por segundo não dessem conta de registrar a sua imagem, sempre em ebulição, fervendo. Um dínamo.
Seu corpo nu é o passo não-dado por outras atrizes-vulcão dos anos 50 e 60, especialmente americanas: pense em Susan Kohner em Imitação da Vida, Natalie Wood em Esta Mulher é Proibida, Jane Fonda em A Noite dos Desesperados, e Dorothy Dandridge em Carmen Jones. Schneider vibra até na ponta dos dedos, e não usa a sexualidade escondida como motor de suas tormentas. O sexo é aparente, e é mais um canal de entrada das diversas violências que a martirizam. Ao mesmo tempo, é por onde extravasa o fluxo de amor e carinho que insiste em sobreviver em sua alma doente.
Schneider venceu o primeiro César de melhor atriz da história do cinema francês. Me parecia um enigma que alguém na face da Terra pudesse ter superado a Isabelle Adjani de A História de Adele H., de Trufô. Superou, mas Adjani correu atrás: anos depois, trabalhou com o mesmo Zulawski e alcançou outro de seus pontos altos na carreira, febril, com as veias saltando na garganta em Possessão. Venceu o César que havia perdido, além do prêmio de melhor atriz em Cannes.
Em tempo: por mais difícil que seja tirar os olhos de Schneider nesse filme, Klaus Kinski faz uma marcante participação coadjuvante com um ator gay porra-louca. Notável.
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