quarta-feira, março 10, 2010

100 filmes, 2000-2009

A lista a seguir foi feita a pedido de Chico Fireman, do Filmes do Chico, e reúne meus filmes favoritos produzidos entre 2000 e 2009. Vale aqui a data do IMDB, e, claro, é um registro de minhas preferências neste exato momento, com possibilidades constantes de mudança e feito mesmo com as sérias lacunas de repertório que tenho. Vamos lá:




Em Paris

100 - Fim dos Tempos, de M. Night Shyamalan, EUA
99 - Os Infiltrados, de Martin Scorsese, EUA
98 - Madame Satã, de Karim Aïnouz, Brasil
97 - Gran Torino, de Clint Eastwood, EUA
96 - Nove Rainhas, de Fabian Bielinsky, Argentina
95 - Em Paris, de Christophe Honoré, França
94 - Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, Brasil
93 - Turning Gate, de Hong Sang-soo, Coreia do Sul
92 - Caché, de Michael Haneke, França
91 - O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, Peter Jackson, Nova Zelândia



E Sua Mãe Também

90 - Maria Antonieta, de Sofia Coppola, EUA
89 - Separações, de Domingos de Oliveira, Brasil
88 - Elefante, de Gus Van Sant, EUA
87 - The Brown Bunny, de Vincent Gallo, EUA
86 - Sob a Areia, de François Ozon, França
85 - Crime Delicado, de Beto Brant, Brasil
84 - E Sua Mãe Também, de Alfonso Cuarón, México
83 - Ninguém Pode Saber, de Hirokazu Koree-eda, Japão
82 - Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino, EUA
81 - Cinemas, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, Brasil



Amantes

80 - Conte Comigo, de Kenneth Lonergan, EUA
79 - O Filho, de Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne, Bélgica
78 - As Leis de Família, de Daniel Burman, Argentina
77 - O Tigre e o Dragão, de Ang Lee, Taiwan
76 - Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg, EUA
75 - Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow, EUA
74 - Mr. Vingança, de Chan-wook Park, Coreia do Sul
73 - Kill Bill Volume 2, de Quentin Tarantino, EUA
72 - Amantes, de James Gray, EUA
71 - Sonata de Tóquio, de Kiyoshi Kurosawa, Japão



King Kong

70 - O Filho da Noiva, de Juan José Campanella, Argentina
69 - Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, Brasil
68 - Clean, de Oliver Assayas, França
67 - Longe do Paraíso, de Todd Haynes, EUA
66 - Doze Homens e Outro Segredo, de Steven Soderbergh, EUA
65 - Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson, EUA
64 - King Kong, de Peter Jackson, Nova Zelândia
63 - Taurus, de Aleksandr Sokurov, Rússia
62 - Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, Brasil
61 - O Pântano, de Lucrecia Martel, Argentina



Cleópatra

60 - O Sabor da Melancia, de Tsai Ming-Liang, Taiwan
59 - Cleópatra, de Júlio Bressane, Brasil
58 - Munique, de Steven Spielberg, EUA
57 - A Professora de Piano, de Michael Haneke, França
56 - Pinceladas de Fogo, de Im Kwon Taek, Coreia do Sul
55 - Edifício Master, de Eduardo Coutinho, Brasil
54 - Desejo e Perigo, de Ang Lee, Taiwan
53 - Clube da Lua, de Juan José Campanella, Argentina
52 - A Casa de Alice, de Chico Teixeira, Brasil
51- Sparrow, de Johnnie To, Hong Kong



O Sol

50 - Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola, EUA
49 - O Amor em Cinco Tempos, de François Ozon, França
48 - O Sol, de Aleksandr Sokurov, Rússia
47 - Colateral, de Michael Mann, EUA
46 - Pulse, de Kiyoshi Kurosawa, Japão
45 - O Ultimato Bourne, de Paul Greengrass, EUA
44 - Zodíaco, de David Fincher, EUA
43 - A Menina Santa, de Lucrecia Martel, Argentina
42 - Paranoid Park, de Gus Van Sant, EUA
41 - Canções de Amor, de Christophe Honoré, França



Má Educação

40 - Mulher na Praia, de Hong Sang-soo, Coreia do Sul
39 - Ratatouille, de Brad Bird, EUA
38 - Eternamente Sua, de Apichatpong Weerasethakul, Tailândia
37 - Hulk, de Ang Lee, EUA
36 - Abraço Partido, de Daniel Burman, Argentina
35 - A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, EUA
34 - Em Busca da Vida, de Jia Zhang-ke, China
33- Má Educação, de Pedro Almodóvar, Espanha
32 - O Que Você Faria?, de Marcelo Piñeyro, Espanha
31 - O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee, EUA



Aura

30 - Prenda-me se For Capaz, de Steven Spielberg, EUA
29 - Adeus, Dragon Inn, de Tsai Ming-Liang, Taiwan
28 - Dogville, de Lars von Trier, Dinamarca
27 - O Hospedeiro, de Bong Joon-ho, Coreia do Sul
26 - Santiago, de João Moreira Salles, Brasil
25 - Menina de Ouro, de Clint Eastwood, EUA
24 - Um Homem Sério, de Ethan Coen & Joel Coen, EUA
23 - Dançando no Escuro, de Lars von Trier, Dinamarca
22 - Aura, de Fabian Bielinski, Argentina
21 - Dolls, de Takeshi Kitano, Japão



2046

20 - Gerry, de Gus Van Sant, EUA
19 - Homem-Aranha 2, de Sam Raimi, EUA
18 - À Prova de Morte, de Quentin Tarantino, EUA
17 - A Supremacia Bourne, de Paul Greengrass, EUA
16 - 2046, de Wong Kar-Wai, Hong Kong
15 - As Coisas Simples da Vida, de Edward Yang, Taiwan
14 - Procurando Nemo, de Andrew Stanton, EUA
13 - Mal dos Trópicos, de Apichatpong Weerasethakul, Tailândia
12 - Exilados, de Johnnie To, Hong Kong
11 - A Questão Humana, de Nicolas Klotz, França



Lavoura Arcaica

10 - Femme Fatale, de Brian de Palma, EUA
9 - Onde os Fracos Não Têm Vez, de Ethan Coen & Joel Coen, EUA
8 - Moulin Rouge, de Baz Luhrmann, Austrália
7 - As Ervas Daninhas, de Alain Resnais, França
6 - Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, Brasil
5 - O Novo Mundo, de Terrence Malick, EUA
4 - Fale Com Ela, de Pedro Almodóvar, Espanha
3 - Reis e Rainha, de Arnaud Desplechin, França
2 - Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai, Hong Kong

E o melhor filme da década é:



1 - Miami Vice, de Michael Mann, EUA

domingo, março 07, 2010

Oscar 2010 #2

O filme mais complicado, instigante e inteligente do Oscar deste ano vem da sempre impecável linhagem dos irmãos Coen, que andam em fase inspiradíssima e especialmente cruel após Onde os Fracos Não Têm Vez. É essa também a fase em que eles menos recorrem à muleta da revisão dos gêneros clássicos do cinema americano, como fizeram durante toda a carreira, de Gosto de Sangue a O Amor Custa Caro. Agora, sem o filtro referencial, radicalizam uma visão de mundo pessimista e desconcertante: Um Homem Sério, o mais recente e indicado a Melhor Filme e Roteiro Original, talvez seja o filme em que o olhar deles sobre a vida é mais claro e límpido - não há muito sentido nas coisas, e pronto.

Se em Onde os Fracos... e Queime Antes de Ler sobressaiam-se entrelinhas políticas e uma sufocante malaise americana, Um Homem Sério é mais pessoal, menor, a partir do fator biográfico que o acompanha. É uma história muito judaica sobre personagens meio intelectuais vivendo a virada dos anos 60, período em que os Coen viviam a adolescência, e o garoto do filme faz a providencial descoberta da maconha enquanto o mundo de seus pais desmorona numa sequência de fatos absurdos.

Se a comédia de erros sempre esteve presente no cinema dos irmãos a partir de histórias de crimes fracassados, Um Homem Sério sugere que a vilã, desta vez, é a própria vida. Dentro do inferno sofrido pelo professor universitário que protagoniza o filme, não há nada que não seja real. Nada passa por fantástico ou extra-terreno, como assassinos psicopatas e mulheres perigosas. Os mecanismos dessa tortura podem ser o resultado de um exame médico, a rejeição da esposa, a expectativa de uma promoção no trabalho...



Apesar de aparentemente comezinho, esse conjunto de tensões acumuladas do cotidiano de um pai de família ganham as mesmas dimensões de horror já vistas em filmes como Ajuste Final, ou Fargo. O final, sagração do niilismo, coroa genialmente o tom de descrença em tudo e impotência geral diante da aleatoriedade da vida. Exasperante.

Aliás, nem precisava dizer, mas os Coen continuam fazendo o melhor cinema narrativo do mundo, de controle absoluto de cada imagem, cada plano, cada inflexão de voz de cada coadjuvante, como se tudo já estivesse concebido em sua perfeição desde o roteiro. E esse aqui é absolutamente o filme mais bem montado que o cinema vê em muito tempo.

>>> O segundo dos três filmes incríveis deste Oscar (o terceiro é Bastardos Inglórios, de que já falamos) é Guerra Ao Terror, de Kathryn Bigelow. O maior êxito desse aqui é ser composto como uma série de esquetes, que postas em sequência, desmentem o filme visto e o aponta rumo a um sentido oposto: de vibrante filme de ação para reflexão sobre a natureza viciante desta ação.

O jeito como Bigelow dispõe a história do desarmador de bombas que não consegue viver sem o desafio do perigo (Guerra ao Terror tem uma cena eletrizante depois da outra) me lembra um filme bem distante geográfica e tematicamente, mas com os mesmos artifícios.

Não estamos muito longe do repórter de celebridades de A Doce Vida, de Fellini, sempre atrás de uma história absurda, cada uma sem ligação com a anterior, mas juntas, capazes de formar um panorama de uma pessoa obcecada por aquilo tudo mas crítica o suficiente para detestá-la, mesmo sem conseguir sair desse trilho. A comparação não é tão absurda: para Bigelow, a geuura não deixa de ser um espetáculo do qual seu protagonista insiste em fazer parte.

>>> Um Sonho Possível é uma incógnita: é até uma Sessão da Tarde ok, mas sua indicação ao Oscar é mais absurda que a de Chocolate, de Lasse Hallström. Sandra Bullock tem carisma, mas vai levar o Oscar por questões estritamente industriais. Apenas mais um feel good movie beneficiado por uma bilheteria. Mais quadrado impossível. Ainda assim, acho melhor que Coração Louco, que vai tirar Jeff Bridges do jejum (ele está bem, nada demais). O filme não tem nem o domínio de tempo de Um Sonho Possível. Estruturas rangem, e é difícil lutar contra o sono. A música é bacana, e só.