quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Oscar 2012: melhor filme

Bom, o Oscar é esse domingo e vou dar uns pitacos rápidos sobre os indicados a melhor filme, do pior para o melhor (num post seguinte, amanhã ou depois, falo sobre outras categorias).

9 - Histórias Cruzadas

Velho blá blá blá sobre os direitos civis dos negros em mais uma versão sem sangue no olho assinada por brancos condescendentes. Impressionante como continuam engolindo essa redução de complexidades, da patroa vilã de novela mexicana à empregada negra gorda e engraçada à bimbo de bom coração à branca criada pela babá negra. Filme é um horror, um desfile de personagens de papelão em situações tão educativas quanto um episódio de Malhação. O pior, acho, é a ambição do filme: não se trata apenas de registrar uma situação por meio de microcosmo; o cara quer contar logo a história de uma cidade inteira com essa rebeldia baseada na escatologia.


8 - Os Descendentes

Já tive mais paciência com esse tipo de coisa, mas hoje em dia só enxergo um filme sobre perda e luto sem qualquer tipo de dor, devidamente higienizado pelo template de "comédia dramática" do cinema americano independente, especializado em "famílias disfuncionais". Causa-me um pouco de choque aquele corpo em coma, na cama, negligenciado por um roteiro preocupado em inserir piadinhas sobre dieta infantil e carboidratos enquanto uma vida se deteriora. Só me lembro de Julianne Moore berrando na farmácia em Magnólia, perguntando ao farmacêutico se ele já havia visto a morte entrar em sua casa. Payne, com certeza, não viu, ou se viu, não aprendeu nada. Shame on you.

7 - Extremamente Alto e Incrivelmente Perto

Outro filme sobre luto que, apesar de tentar extrair algo de intenso desse sentimento, faz isso da maneira mais obscena com golpes bem abaixo da cintura. O filme não se contenta com a imensa carga emocional do 11 de Setembro: pincela todo tipo de efeito para tentar potencializar essa dor, mas só consegue esvaziá-la e reduzir a tragédia de uma nação a um dramalhão de quinta. Até o amor por NY é fake nas mãos de um diretor inglês, e não chega aos pés até do que Sam Raimi fez em Homem-Aranha 2, por exemplo, pra ficar numa vertente menos independente do cinemão.

6 - Meia Noite em Paris

Woody Allen jogando para a plateia, preguiçoso que só, com mais um daqueles roteiros que precisam de uns dois tratamentos a mais, pelo menos. Filme passa como um megacomício para convertidos: Paris, aversão a intelectuais pedantes, paixão por escritores e artistas que vivem de verdade, problemas de bloqueio criativo. Allen sempre fez mais ou menos o mesmo filme, mas perdeu completamente o frescor quando desaprendeu a organizar suas obsessões em filmes precisos, agudos... Esse é mais um dessa longa fase que ameaça virar definitiva. Nunca mais Maridos e Esposas, Tiros na Broadway, Manhattan ou A Rosa Púrpura do Cairo. Conformem-se.

5 - O Artista

Um festival de gags sensacionais e momentos de pura inteligência visual e cinematográfica num filme meio problemático, perdido numa estrutura rangente de melodrama, cheia de situações pesadas demais pro show de alegria e nostalgia que o filme quer vender. Ainda assim, os pontos altos (o sonho, os aplausos no início, os filmes dentro do filme, a cartela de bang!, o número musical final, etc) são tão altos que a gente perdoa tudo. E pode até se apaixonar de verdade.

4 - O Homem Que Mudou o Jogo

Cinebiografia clínica e gelada sobre estatística e beisebol. Funciona justamente porque o filme trabalha com esse objetivo de precisão enquanto o roteiro corta uma série de dobrados pra ir injetando humanidade num ambiente tão árido. Termina muito bem, ambiguamente, numa vitória ano após ano da incerteza sobre a matemática. Por melhor que seja o objetivo de racionalizar-se, há uma margem imponderável para fazer o homem relativizar o seu caminho, apesar dos avanços. O esporte como metáfora da vida.

3 - Cavalo de Guerra

É quase como que Spielberg tenha feito esse filme no intervalo de Tintin como um pedido de desculpa: no lugar do cinema digital insuportável e barroco com vinte cortes por minuto, uma narrativa clássica, elegante, de visual deslumbrante, inspirada em grandes diretores do passado. Quase ninguém hoje em dia saberia filmar tão bem nessa chave antiquada tanto de cinema quanto de pensamento e emoção. A cena dos dois soldados inimigos unidos para salvar o cavalo deve ser o auge do humanismo spielberguiano.

2 - A Invenção de Hugo Cabret

Um grande triunfo técnico que justifica o 3D como caminho viável de cinema. Mesmo num filme de fantasia, as cenas têm gente de verdade em um set de verdade, e há um trabalho esplêndido de fotografia e direção de arte que ainda ter boa dose de artesanato e olho humano, sem tanta dependência de computadores. O 3D não é protagonista do filme, e sim uma característica de volume das imagens. O melhor é que Scorsese acerta em cheio num cinema do hoje pra celebrar não apenas o cinema, mas a literatura, a crítica, as filmotecas, bibliotecas e a preservação da cultura. Enfim, celebrar a História.

1 - A Árvore da Vida

Vocês sabem o que eu acho desse aqui. É um dos cinco melhores filmes desse século até agora, ou mesmo o melhor, por mais torto que seja. Em resumo, o indicado ao Oscar de melhor filme mais incrível desde os anos 70, provavelmente.

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