Uma coisa que me impressiona (para o mal) nos filmes de Christopher
Nolan é a sua excessiva necessidade de rocambolizar suas historinhas a
tal ponto que o único jeito de administrá-las é descrevê-las tim tim por
tim tim, o tempo todo. Na primeira meia hora desse Batman eu até
relevei, achei que era só um começo pouco inspirado, mas o filme passa dessa marca e
continuamos a ver a mesma situação se repetir em uma a cada três cenas:
um terço do filme é isso, personagem A explica para personagem B uma
situação X.
Alfred explica a situação da empresa para Bruce, Lucius explica a
situação da empresa para Bruce e depois fala dos seus equipamentos,
Miranda fala do seu projeto para Bruce, Blake explica para Bruce como o
reconheceu, o sócio de Bruce explica para Bane o seu plano, Bane explica
pro Batman as suas motivações, os colegas de cela explicam pra Batman
como uma criança saiu da cadeia e quem seria aquela criança, Miranda
explica quem ela é, explica porque seu plano é infalível... Enfim, blá
blá blá.
Não tem conversa: as palavras para Nolan são apenas uma funcionalidade, e
uma funcionalidade sobre a qual ele não tem muito domínio. Há nesse
Batman alguns dos piores diálogos de blockbusters recentes, fator
realçado pela pretensão de ser uma "tragédia" e não um
filme de comics. Quando Bane fala então ("Você apenas se acostumou com a
escuridão, mas eu fui moldado por ela", etc), com aquele sotaque
supostamente diferenciado, a agonia de ver o filme toma proporções
épicas, aí sim.
Não vou nem entrar aqui no queijo suíço desse roteiro (até porque não tô
nem aí) nem na contínua inabilidade que esse cara tem de filmar ação. O
que mais me incomodou foi perceber que um filme tão insuportavelmente
didático (é um Telecurso 2000 Gotham) não deixa o mínimo espaço para qualquer ambiguidade, qualquer
pensamento mais elaborado que fuja da explicação de motivações. É um
filme sem segundas interpretações, já que só interessa entender
por que um personagem vai de um ponto ao outro.