Volto a usar esse espaço como blog, e não como reprodutor de textos que escrevo para outro lugares. Em flashes e rapidinho, já que o tempo anda escasso:
>>> Além dos dois livros citados em post recente (Nó Na Garganta e Vernon God Little), andei lendo Ian McEwan. Primeiro foi o Reparação, fábula poderosa sobre culpa e redenção impossível, narrada numa muito sofisticada estrutura de tempo que arma um truque intrigante, e atinge o leitor em cheio, no final. O livro vira filme esse ano, com o mesmo diretor de Orgulho e Preconceito. Pelo trailer, palpite: vão fazer O Paciente Inglês de novo, amantes separados pela guerra, o que não tem muito a ver com o original. (O filme de Minghella não é só isso, eu gosto. Ainda assim, é muito diluído em relação ao livro).
>>> Gostei de Reparação, catei (comprei, R$ 23) um livro um pouco mais antigo dele, Amsterdam, que venceu o Booker Prize. Novo espanto. Mais um trabalho de tempo sensacional, desta vez em pequena dimensão. Há o passado, e todas as conseqüências no que os dois personagens principais são agora – sem traumas antigos, é bom que se diga, apenas o desgaste de ser. O final, arriscadíssimo, por um pingo não destrói tudo, mas funciona. Menos polido que Reparação, mas com pontos mais altos, talvez.
Ian McEwan
>>> Leio finalmente O Amor Nos Tempos do Cólera, e já no meio, o livro me parece sem propulsão. Há um início maravilhoso, depois um flashback gigantesco que conta o que aconteceu, mas infelizmente sem suspense – a narrativa vira uma passagem em revista por 50 anos da vida de dois personagens. “Fizeram isso, aquilo e aquilo outro, amaram fulano e beltrano”. Claro, há muita beleza na descrição desse tipo de coisa, mas estruturalmente, o livro não funciona tão bem. Por enquanto, deixa terminar.
>>> Esse flashback de García Marquez me lembra o arrasador capítulo final de Hiroshima, de John Hersey, escrito 40 anos depois da primeira parte. O livro é a reportagem do século: primeira parte, seis pessoas em Hiroshima, aqui e agora, com precisão de detalhes cinematográfica; segunda parte, o reencontro com as seis pessoas, Hersey resume o que aconteceu com cada uma delas nos 40 anos seguintes, 10 páginas para cada. É acachapante: 40 anos em 10 páginas, escritas com infinita placidez, respeito e humanidade. E dá uma terrível melancolia, à Yasujiro Ozu.
>>> Muitos, muitos filmes além dos criticados recentemente. Pra resumir, um recente: Gerry, de Gus Van Sant, o melhor de sua nova fase autoral, que continua com Elefante e Last Days. O filme é o mínimo possível – Matt Damon e Casey Affleck perdidos de uma excursão em campo aberto, andam, andam, andam atrás de ajuda. Esqueça Robinson Crusoé, o tom aqui é claramente de transe, planos longuíssimos só com o barulho do deserto, poucos diálogos. Falando assim pode parecer afetado, mas é radical.
Gerry, de Gus Van Sant
>>> Uns velhos: Desafio à Corrupção, muito bom filme de Robert Rossen com Paul Newman, aparentemente sobre sinuca, só que mais um poderoso ensaio sobre a desilusão americana que produziu várias obras-primas nos anos 60. O Indomado, A Sangue Frio, A Noite dos Desesperados...
>>> Muitos outros para comentar – andei vendo de Lola, a Flor Proibida (Jacques Demy) a Um Condenado à Morte Escapou, de Robert Bresson. Esse filme de Bresson é uma maravilha, mas sou mais Demy, menos em Lola e mais em Os Guarda-Chuvas do Amor e Duas Garotas Românticas. Último filme visto: O Buraco, de Tsai Ming-Liang.
>>> Último texto em Nacocó: Cinema novo, novidade pouca. Comentário sobre as novas salas do Cinemark e da UFBa.
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