Torço para achar algum torrent em boa qualidade, e demorar quase uma semana para baixar um filme sequer, devido à baixa velocidade da conexão por estas bandas. De fato, já consegui baixar e ver The Visitor, que conseguiu uma indicação de melhor ator para Richard Jenkins (o pai morto da série A Sete Palmos).
O filme não tem nada de especial, e é mais um exemplar sem brilho da praga que assola o cinema independente americano depois do sucesso de Beleza Americana: longas sensíveis sobre americanos-médios com crise de meia idade. Todo ano tem um filme assim, ou pelo uma produção com um personagem de destaque nesta condição, de Sideways a A Família Savage, passando por Encontros e Desencontros, Provocação e Conte Comigo.
Enfim, uma seleção de qualidade variável, e The Visitor é representante dos níveis mais baixos. Não é vil, apenas dolorosamente medíocre, acreditando que conflitos podem ser criados com a cara estática de um ator sem pathos e algum silêncio. Não podem, ainda mais quando o roteiro insiste em clichês ridículos, como associar a evolução pessoal à prática de tocar tamborim - defintivamente a metáfora mais ridícula desde que Dustin Hoffman aprendia a ser um bom pai dominando as técnicas de preparo de uma boa rabanada, em Kramer vs Kramer.
Se os atores costumam dar algum brilho a esse tipo de filme, Jenkins decepciona. Ele não tem a dinâmica verve autodepreciatória de Kevin Spacey (que empurrava Beleza Americana ladeira acima absolutamente sozinho, diga-se de passagem) ou a nulidade assustadora de Bill Murray em Flores Partidas, por exemplo. É só um ator batendo ponto em território já coberto por colegas de profissão.
***
Ainda sobre o Oscar, não sei por que há tanta comoção em torno da esnobada levada pelo Batman. O prêmio não é padrão de qualidade, mas, neste caso, ele tem razão. O filme não é isso tudo. Pode-se não ser tão radical quanto Inácio Araújo, para quem adultos de verdade não se impressionariam com essa aventura de super-herói, mas se um blockbuster merecia a vaga na lista final, este seria o ousado, arrojado e brilhante desenho da Pixar, Wall-E.
Se um filme de super-herói já mereceu essa indicação, foi Homem-Aranha 2, dirigido por Sam Raimi, um cineasta muito superior a Chris Nolan, que não aprendeu que profundidade não se constrói só com uma paleta de azul e cenas noturnas. O texto precisa ser bom também, e não uma patacoada sobre as "complexidades do bem e do mal", facilmente descontruídas por qualquer cena de Onde os Fracos Não Têm Vez.
Indicação a direção? O filme é bem-feito, mas a Academia jamais poderia honrar as calças nomeando esse fedelho depois de ter ignorado o Michael Mann de Colateral, Fogo Contra Fogo e Miami Vice, de onde Nolan roubou as ideias de encenação e visual - com bem menos coragem, aliás.
No mais, a expectativa para esse Oscar é torcer pela vitória de Kate Winslet, mesmo que O Leitor não preste (O diretor é Stephen Daldry, do muito bom Billy Elliott e do terrível As Horas). Ela tem muito crédito na casa, e já merecia todos os prêmios do mundo desde que apareceu no cinema, como uma das garotas assassinas e apaixonadas de Almas Gêmeas, de Peter Jackson.
8 comentários:
Eu não assisti a série A sete palmos, primeiramente, mas nõa me importo muito com Jenkins. Nunca atrapalhou o que vi, mas também nunca fez muita diferença. E como eu já perdi a paciÊncia com o tipo de filme de VISITOR não duvido que saia da sessao desdenhando até o correto.
Idem sobre DARK KNIGHT.
Idem² sobre WINSLET.
Idem sobre WALLE, que provavelmente fica com no mínimo 3, mas acredito em 5.
Wall-E é muito superestimado por causa de seus 40 min iniciais. Considerando o filme por inteiro, com lição de moral chata e piegas, fica muito atrás de outros da Pixar. Procurando Nemo, do mesmo autor, é um filme muito mais profundo e bem-acabado.
Eu já me irrito com essa história dos momentos iniciais mudo. Não vejo tanta gloria por isso, os momentos iniciais são os melhores, sim, mas nao resumidamente por ser mudo. Até porque da pra contar nos dedos da mao do lula o numero de cenas não-mudas.
Mas Minêu, o mote da segunda parte de Wall-E nunca foi a lição de moral, e sim uma violenta na torta na cara da modernidade americana, com suas massas informes que mal conseguem andar. Wall-e é uma grande sátira, mas concordo que Procurando Nemo é bem mais acabado, e o melhor filme da Pixar.
Talvez o segundo saymon.
Achei uma crítica muito rasa, muito óbvia, uma abordagem quase escolar do assunto. Isso aí aquele filme Super Size Me também fez (de uma maneira tb ruim, diga-se). Lamento pq Wall-E filme poderia ser uma obra-prima, mas se perde no meio do caminho. Mas respeito sua opinião. Acho que 2007, com greve de roteirista e tudo, foi um ano mais produtivo para hollywod.
Não acho que seja um filme realmente profundo, mas nessa segunda parte, mesmo que de maneira escolar, eles ligam uma metralhadora de piadas que sempre funciona nos filmes da Pixar, aquela coisa de detalhar um mundo que não conhecemos - o dos insetos, o dos peixes, o dos monstros. A diferença é que dessa vez, nós no futuro é que somos a vítima desse processo de exotização. Eu acho que funciona muito, a articulação Pixar de aventura continua excelente, e o filem consegue manter o encantamento produzido no começo pela paixão de Wall-e e Eve.
No meu ranking Pixar, Wall é o quinto, ou talvez o sexto, sem nenhum demérito. Vejamos:
1 - Nemo
2 - Ratatouille
3 - Toy Story
4 - MOnstros S/A
5 - Os Incríveis
6 - Wall-E.
Eu indicaria todos esses seis longas a um Oscar de melhor filme antes da filosofada cool desse Batman.
Almas gêmeas é um cartão de visitas e tanto para Kate Winslet, mas eu particularmente tiro o meloso Titanic da lista de meritos da atriz, e vc nem cita o dito graças a deus! Finalmente alguém sensato abriu a boca para dizer que Batman é uma patacoada!!! E quanto a não indicação de Wall-E, a academia tem histórico de besteiras bem maiores. Ótima análise, apesar das dificuldades de fruição cinematografica além amar, o sensoc crítico continua afiadíssimo.
Postar um comentário