Bressane é etéreo, reflexivo, calmo até mesmo na linda estilização de cenários e figurinos e o uso brilhante de exteriores, quase sempre um mar que não vai dar em lugar nenhum fazendo as vezes do Rio Nilo, algo próximo a Boom!, de Joseph Losey. A direção de arte é tão brilhante que o filme lembra os esforços de Orson Welles em filmar época sem dinheiro algum, apostando mais em ideias visuais do que em reconstituição.

Essas ideias, aliás, garantem ao filme pelo menos uns dez momentos de antologia, desde o já clássico close-up na vagina pintada de preto de Alessandra Negrini (que termina no mesmo loop que Hitchcock fez no olho de Janet Leigh em Psicose - será uma piada?) até o assassinato de Júlio César numa escada, agressivamente montado e musicado. Fotografia de Walter Carvalho é um assombro, provavelmente seu melhor trabalho, junto com Lavoura Arcaica.
Negrini, fora de controle, e Miguel Falabella, teatral e absurdamente preciso, estão em sintonia perfeita com esse filme atordoante, difícil mas inegavelmente fascinante. É realmente um alívio ver que ainda há espaço para esse tipo de voo livre no cinema brasileiro. Sensacional.
Um comentário:
Me lembro que, quando vi CLEÓPATRA do Bressane, comentei algo parecido no meu blog com o que vc disse aqui: é muito bom ainda ver um cinema brasileiro livre de amarras e de fórmulas. Acho o filme absolutamente brilhante.
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