segunda-feira, agosto 13, 2012

Telecurso 2000 Gotham

Uma coisa que me impressiona (para o mal) nos filmes de Christopher Nolan é a sua excessiva necessidade de rocambolizar suas historinhas a tal ponto que o único jeito de administrá-las é descrevê-las tim tim por tim tim, o tempo todo. Na primeira meia hora desse Batman eu até relevei, achei que era só um começo pouco inspirado, mas o filme passa dessa marca e continuamos a ver a mesma situação se repetir em uma a cada três cenas: um terço do filme é isso, personagem A explica para personagem B uma situação X.

Alfred explica a situação da empresa para Bruce, Lucius explica a situação da empresa para Bruce e depois fala dos seus equipamentos, Miranda fala do seu projeto para Bruce, Blake explica para Bruce como o reconheceu, o sócio de Bruce explica para Bane o seu plano, Bane explica pro Batman as suas motivações, os colegas de cela explicam pra Batman como uma criança saiu da cadeia e quem seria aquela criança, Miranda explica quem ela é, explica porque seu plano é infalível... Enfim, blá blá blá.

Não tem conversa: as palavras para Nolan são apenas uma funcionalidade, e uma funcionalidade sobre a qual ele não tem muito domínio. Há nesse Batman alguns dos piores diálogos de blockbusters recentes, fator realçado pela pretensão de ser uma "tragédia" e não um filme de comics. Quando Bane fala então ("Você apenas se acostumou com a escuridão, mas eu fui moldado por ela", etc), com aquele sotaque supostamente diferenciado, a agonia de ver o filme toma proporções épicas, aí sim.

Não vou nem entrar aqui no queijo suíço desse roteiro (até porque não tô nem aí) nem na contínua inabilidade que esse cara tem de filmar ação. O que mais me incomodou foi perceber que um filme tão insuportavelmente didático (é um Telecurso 2000 Gotham) não deixa o mínimo espaço para qualquer ambiguidade, qualquer pensamento mais elaborado que fuja da explicação de motivações. É um filme sem segundas interpretações, já que só interessa entender por que um personagem vai de um ponto ao outro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sobre o roteiro queijo suíço, salta aos olhos a cena com Lucius depois dos bandidos invadirem a bolsa, dizendo que levaria tempo até ser provada a fraude na utilização das digitais de Bruce Wayne. Ora, um monte de bandidos invadem a bolsa, a polícia inteira da cidade na porta para pegá-los, e todo mundo fica simplesmente pensando que Bruce Wayne pirou fazendo investimentos ruins até ir à falência?