quarta-feira, junho 26, 2013

O Dia Em Que Ele Chegar

Não consigo tirar da cabeça a beleza intoxicante de O Dia Em Que Ele Chegar, filme do sul-coreano Hong Sangsoo que, espero, ainda veja a luz dos cinemas no Brasil. Conheci Hong ainda confiando na promessa meio rápida de um novo Rohmer e fui encontrando, filme a filme, algo único e exclusivo, que, com todo o respeito, nada deva ao grande mestre francês. 

Trata-se de alguém que filma basicamente a mesma coisa, as mesmas pessoas e os mesmos sentimentos com imenso carinho, a ponto de ser difícil diferenciar mentalmente um filme do outro além dessa sensação de embriaguez e frugalidade que acompanha essa pessoas do ramo do cinema, que saem falando sobre o cinema e a vida em bares e restaurantes de Seul e arredores.

De uns filmes pra cá, Hong me pareceu especialmente interessado em chegar a uma essência desse seu cinema, tomando por dominada essa beleza que ele evoca e pensando basicamente na estrutura a chegar a ela, até um ponto mínimo, exato, a sua partícula de Deus. São filmes que repetem obsessivamente uma mesma coisa, de múltiplos pontos de vista sobre um só evento, sempre tendo claramente o cinema como instrumento: os roteiros de A Visitante Francesa, os filmes de Oki's Movie...

O Dia Em Que Ele Chegar é mais opaco - não há filmes dentro de filmes -, mas é o ponto mais acabado dessa sintonia fina. Tudo funciona metalinguisticamente e diretamente com independência, ou seja, funciona dentro de uma trajetória de um cineasta para quem nela está interessada, e também pra quem desatentamente estiver conhecendo o cara agora, podendo ficar extremamente tocado e comovido com a graça triste que ele consegue capturar nessas noites bêbadas, nessas conversas sobre tudo, nessa ideia de que toda a vida cabe num gole de soju.

Esse século teve grandes filmes, e alguns grandes filmes imperfeitos que amamos mesmo sim, mas esse aqui tá naquela numa liga acima, especial. É ruim usar essa palavra, mas eu chamaria mesmo de sublime, aquele momento em que uma obra de arte simplesmente extrapola os limites do encantamento. São 78 minutos para jamais esquecer.

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