sexta-feira, dezembro 31, 2021

TOP 5 - 2021

 TOP 5 - 2021

2021 foi um ano de retomar a cinefilia, mas ainda não tenho muito a noção do que seja um calendário de filmes elegíveis. Só comecei a ir ao cinema há alguns poucos meses, e vi coisas com distintas datas de lançamento no mundo. Decidi, portanto, fazer um top 5 (roubando), cujo critério de elegibilidade se resume em dois itens:
a) lançamento mundial em 2020 ou 2021
b) vi pela primeira vez em 2021, não importa onde.
5) Nomadland, de Chloe Zhao, e Cry Macho, de Clint Eastwood
Dois faroestes (Zhao talvez não saiba disso) sobre a falência da América como lugar, como terra-natal, com cidades morrendo e personagens à deriva. Eastwood prefere o estrangeiro, e como tem o faroeste como gênero (e a própria imagem como mito) a explorar, prefere dar um final feliz a este e a todos os seus cowboys, mas longe de casa, do outro lado da fronteira. A protagonista de Zhao ecoa os anos longe de casa de Ethan Edwards em Rastros de Ódio, de John Ford. Fern e Ethan voltam à casa vazia onde seus amores morreram, e decidem voltar para a estrada, sem rumo. Filmes exemplares em iconografia.
Sessão tripla: esta é a mesma América da família errante de O Peso de um Passado, de Sidney Lumet.
4) Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar, e O Que Ficou Para Trás, de Remi Weeks.
Almodóvar parte do melodrama mais raiz, o da mãe que não quer perder o seu filho e é capaz de tudo para isso. Weekes trabalha com o horror de uma família que muda para uma casa nova assombrada por espíritos. Dois exercícios de gênero bem básicos e bem feitos, elevados porque espelham os fantasmas da História, desaparecidos em valas comuns ou no fundo do oceano.
Sessão tripla: A Europa em seus loop de guerras e refugiados de Em Trânsito, de Christian Petzold.
3) Titane, de Julia Ducournau, e Ataque dos Cães, de Jane Campion
Dois contos sobre duos de personagens que tateiam para acessarem um ao outro. A ambiguidade sexual é uma vulnerabilidade transformada em arma em jogos que podem ser emocionais (Ducournau) ou eróticos (Campion). No comando dos dois filmes, mulheres que se negam a clichês de sutileza feminina na direção, com mão firme e pesada para servir com convicção a seus projetos estéticos.
Sessão tripla: Gente abrasiva que sequer consegue se tocar, apesar da atração, em O Homem Ferido, de Patrice Chéreau.
2) Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi
O bem japonês processo de elaboração do luto, mas aqui instrumentalizando a arte, fundamental porque nos dá narrativas de espelho à vida, guia a cura das feridas, sem no entanto representar uma fuga. Curiosamente, o carro do filme onde os personagens conversam e acertam as contas é uma metáfora de um consultório de psicanálise, mas também de um palco.
Sessão dupla: O caminho é através da dor, não ao redor, como em Poesia, de Lee Chang-Dong
1) Benedetta, de Paul Verhoeven
Nada como a catarse de ir ao cinema e em vez de ver um filme, encarar uma montanha russa de duas horas. O jogo de poder, sexo e fé entre as mulheres de um convento é um excelente material para as provocações de Verhoeven, mas o impacto do filme é sobretudo formal, da sustentação de uma narrativa no último volume, em que cada cena reconfigura o filme do modo mais inesperado, sem qualquer medo do ridículo, com convicção absoluta na carnalidade que movimenta as peças desse jogo de xadrez. Verhoeven é isso, o triunfo do cinema como experiência à flor da pele.
Sessão dupla: Explosões na cabeça e no coração entre pessoas confinadas, como em Paixões Que Alucinam, de Samuel Fuller.
(Eu vi ano passado e só estreou agora, inesperadamente. Não consegui colocar no top 10 deste ano, não consigo pensar como uma experiência 2021, mas que GRANDE filme é Undine, de Christian Petzold. Está em cartaz em Salvador).

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