Durante o tempo em que não atualizei esse blog, pensei várias vezes em cancelá-lo. Sempre tenho vontade de escrever, mas falata o tempo para escrever do jeito que eu quero: aqueles posts grandes, com ambição analítica... Resolvi continuar, mas vou mudar o formato. Escrevo menos, em flashes, uma vez que minha capacidade "analítica" é superficial e acabo produzindo mastodontes sem nenhuma consistência. Agora, vamos às coisas sobre as quais eu quis comentar nesse intervalo:
>>> Os Olhos Sem Rosto, de Georges Franju, é um grande filme. Suspense clínico, surpreendentemente gráfico para a época que foi feito, traz as marcas que eu costumo identificar nos exemplares franceses do gênero, seja literatura ou cinema: as mortes difíceis, por armas brancas ou contusão - nunca vemos pistolas ou revólveres; as pessoas sangram, morrem penosamente; o clima de bruma, nebuloso, por oposição ao sol californiano. Perturbadora a precisão do filme: um médico retira o rosto de mulheres dopadas para fazer um transplante na sua filha, que tem queimaduras graves devido a um acidente de carro. Franju nos ganha pela perversidade da situação. Todo mundo fica indefeso diante de um médico, que se for um louco como é o caso, pode fazer o que quiser. Tudo é muito branco; e a música de Maurice Jarre, tétrica.
>>> Alida Valli, que sempre achei uma das mais belas mulheres da história, está desglamurizada em Os Olhos Sem Rosto. Desse jeito, é claro que ela não bate a Garbo (copm quem era comparado), e provavelmente não bateria mesmo nos seus melhores momentos. Garbo, como dizia Vinicius de Moraes, era uma mulher-orquídea. Apesar disso, continuo a preferir Valli, que não faz a vítima chata. Seuis papéis são sempre arriscados, interessantes, complexos. Como mulher, é terrena, sensual, enquanto Garbo é divina demais. Por falar nisso, também vi Alida Valli por esses dias em La Luna, de Bertolucci, já velha, mas bela.
>>> Eu havia comentado em um post anterior que não conhecia muito o cinema de Bertolucci. Pois bem: vi três filmes dele, e o que mais gostei foi com certeza Assédio, de 99. Uma obra-prima de romantismo e delicadeza, sempre valorizando o silêncio, a capacidade de dizer tudo com o olhar, criando climas intensos só com a presença de dois personagens numa sala. Ajuda muito ter Thandie Newton, linda e sexy. Outra coisa: como Bertolucci é bem observador... Assédio nem precisava, mas é uma excelente visão do mundo globalizado. A Roma onde se passa o filme é uma cidade de expatriados, com vários idiomas. A sensação de ser estrangeiro acentua a solidão, fragiliza e torna os personagens vulneráveis - para o amor, no caso.
>>> Dois colegas meus viram filmes diferentes, mas na verdade viram a mesma coisa. O Poderoso Chefão é Rocco e Seus Irmãos. Trata-se de dois dos filmes mais eloquentes em termos de narrativa tradicional na história do cinema. São extremamente literários, com grandes roteiros, e fazem como poucos o retrato da desintegração da família com tintas épicas. São épicos sem grandes heróis, vilões e conquistas. Enfim, épicos humanos, épicos da gente.
>>> Eu havia prometido um comentário sobre Páginas da Vida, mas não estou assistindo.
>>> Música na minha cabeça:
Fico esperando
um minutinho
mesmo que seja
só pra ganhar um beijinho
rapidamente
de "Eu Estou Apaixonado Por Você", de Helena dos santos, gravada por Roberto Carlos no 1966
2 comentários:
Cancele não, Saymon!
Eu gosto de ler.
Mesmo mesmo.
Pois bem, qual é o conceito do Vinicius de Moraes de "mulher-orquídea"? Fiquei curiosa.
Puxa, não lembro de quase nada de "Assédio".
bises,
Ele não define. Só tira o conceito da cartola, mas acho que funciona.
Muito bom, você deveria ler. Tem na biblioteca.
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