Anunciaram na manhã de hoje a morte de Deborah Kerr, 86. Seis indicações ao Oscar, perdeu todas, mas ganhou uma estatueta honorária quando Sintonia de Amor fez uma homenagem ao seu maior sucesso, o weepie Tarde Demais Para Esquecer. O romance na tela com Cary Grant garante até hoje suspiros apaixonados, mas particularmente, não gosto. Envelheceu, ficou choroso.
Outro sucesso de Kerr foi A Um Passo da Eternidade, de Fred Zinnemann, que tem a cena do beijo na praia. Filme quadrado, mal azeitado, dramalhão, que tem entre seus inúmeros deméritos uma atuação muito ruim de Frank Sinatra, que, claro, venceu o Oscar. A piada é de que Sinatra teria conseguido o papel com a ajuda de suas conexões com a máfia, episódio reproduzido em O Poderoso Chefão na historinha de Johnny Fontane.
Pois bem, o Imdb conta em 52 filmes a carreira de Kerr, muita coisa hoje difícil de achar. Deixa eu ver o que mais vi: Quo Vadis, épico barato roubado pelo histrionismo de Peter Ustinov no papel de Nero; o Júlio César de Joseph L. Mankiewicz, onde ela some diante de Marlon Brando, James Mason e John Gieguld... O gigantesco musical O Rei e Eu, onde ela mais uma vez se deixa ofuscar; desta vez, por Yul Brynner. Há também a divertida elegância de Do Outro Lado, o Pecado, de Stanley Donen. O filme não é lá essas coisas, mas Kerr se diverte à vontade como uma decadente lady inglesa, fazendo par novamente com Cary Grant.
As grandes atuações de Kerr estão em outros filmes: Narciso Negro, incrível e sombrio filme de Powell + Pressburger, ainda nos 40, sobre freiras isoladas numa região remota da Ásia; Bom Dia Tristeza, milimetricamente perfeita como a formal Anne Larson, vítima das intrigas de uma adolescente mimada. O resultado é trágico.
Deborah Kerr em Os Inocentes, de Jack Clayton
Do que vi, a melhor interpretação fica entre Os Inocentes, adaptação impecável (roteiro de Truman capote) de Jack Clayton da novella A Volta do Parafuso, de Henry James, e Pelo Amor de Meu Amor, primeira versão do Fim de Caso de Graham Greene para o cinema, dirigida por Edward Dmytryk.
Nesses dois filmes, os cacoetes hollywoodianos que ela adquiriu na passagem pela América dão lugar a um sutil minimalismo, a nuances perceptíveis em falhas na fala, olhares delicadamente desviados... Há aquela sensação permanente de que há sempre uma emoção interna, abafada. Kerr é magistral nessas atuações baseadas no não-dito, coisa tão tipicamente inglesa.
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