sábado, novembro 01, 2008

A vida é um milagre

Merten lembra: 31 de outubro, 15 anos de morte de Fellini. O senso comum está correto: A Doce Vida é mesmo o melhor Fellini em toda a sua modernidade e inteligência, Oito e Meio o mais radicalmente pessoal longa feito por qualquer diretor em toda a história, mas o meu Fellini preferido é Amarcord, um filme sobre memórias inventadas e transatlânticos de isopor.



Amor ao falso

Vi o filme pela primeira vez ainda na época do VHS, e foi meu primeiro Fellini. Lembro que pegava uns 40 minutos de ônibus para sair da Cidade Baixa à VideoHobby da Graça, onde estavam os clássicos que eu sempre quis ver. Amarcord me pareceu bonito de prima, mas só me pegou pelo pescoço quando o vi na tela grande, com som alto o suficiente para a música de Nino Rota entrar na veia. Não sou de chorar em filmes, mas saí da Walter naquele dia com a cara lavada, olhos doendo. Tava chorando não de tristeza, mas de graça. Amarcord não é um filme, mas um milagre.

***

Eu vi todos os Fellinis até Julieta dos Espíritos, acho, perdendo alguns a partir daí: Casanova, Cidade das Mulheres, A Voz da Lua. Um dia vejo todos. Da primeira fase dele, todos são lindos, mas antes da graça veio a amargura poética, que faz com que Giulietta Masina esteja rindo e chorando depois de ter sido abandonada, reeguendo-se em segundos após uma grande decepção. Ou a mais pura agonia, quando o gigantesco Anthony Quinn desmonta na praia com tanta angústia no peito.

Felliniano é sinônimo de extravagância, mas o excesso do diretor sempre tem peso. Enfim: tantos grandes filmes, que mesmo os que não são A Doce Vida representam com honra uma das melhores assinaturas que o cinema já produziu. Onde se acha, em alguma filmografia, obras secundárias do porte de Satyricon, A Trapaça, ou Os Boas Vidas?

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