O padre e a blasfêmia
Burton pergunta à solteirona se ela já teve experiências "amorosas". Ela havia tido duas. Kerr detalha, em close, como deu um berro quando um colega de classe pôs a mão em seu joelho dentro do cinema. A segunda - Kerr ainda em close-up - foi durante uma viagem em Hong Kong, quando um homem pediu uma peça de roupa da solteirona após pagar um preço generoso por um de seus quadros. Ela aceita, e entrega a peça, enquanto o pagante está de olhos fechados.
Kerr: close-up
O brilhantismo dessa cena resume o melhor de um certo cinema falado feito nos Estados Unidos, inimitável. O que está em jogo, em 100% do tempo, é a palavra e o ator, e John Huston tem confiança absoluta nessas coisas que hoje estão fora de moda. Mas, como achar um texto tão magnífico como esse, assinado por Tennessee Williams? Onde encontrar uma atriz com a desenvoltura de uma Deborah Kerr, sustentando um close bergmaniano desses sem apelar pro silêncio? Velho, datado e empoeirado como esse filme supostamente é, o resultado é de tirar o fôlego. Cinco estrelas, fechadas.
Sem amarras
Isso tudo sem mencionar Ava Gardner. Nunca vi A Condessa Descalça, o auge de sua carreira, mas impressão sobre ela foi sempre a de uma mulher deslumbrante, mas uma não-atriz, no sentido pejorativo do termo. Neste filme, sob a direção de Huston, e já passada da juventude, ela despeja uma maravilhosa sensualidade madura, humana e desglamourizada - linda e mediterrânea, meio Irene Papas, meio Sophia Loren.
Nenhum comentário:
Postar um comentário