Não começava a leitura de uma piauí desde a edição de abril - sabe como é, o tempo vai embora, ainda mais quando você insiste em trabalhar mais do que deve (tudo bem, nenhum problema em ser workaholic). Nas brechas do dia, preferi não abandonar os filmes e os livros, e as revistas começaram a acumular na estante de ferro do meu quarto. Nesse ínterim, não comprei duas edições, mas ontem decidi romper minha cronologia no atraso (sempre lia na ordem, mesmo três ou quatro meses depois, como de hábito) e comecei a edição de dezembro.
Não sei se temops diferenças de padrão, mas só por ler Chegada e Esquina novamente, entendo menos ainda por que Tiago A. cancelou a assinatura dele. Tiago parece esperar que todos os textos tenham a dimensão e o poder de João Moreira Salles, e eu acabei entrando nessa discussão de maneira equivocada, defendendo que toda edição tinha um texto daquele.
Provavelmente não tinha - não li o texto específico de que Tiago fala, O Caseiro -, mas a questão não é essa: piauí tem uma base de qualidade, humor e charme que é absolutamente inquebrantável. Meus 45 minutos perdidos lendo as duas primeiras seções foram puro prazer, de uma forma pequena, diria até delicada.
Os textos não precisam ser os épicos de Salles para ter sua leitura justificada. Recusar tudo isso que piauí oferece o tempo todo e em grande profusão talvez seja um erro de julgamento. Não acho que seja leniente, mas ali não tem texto ruim. Mal posso esperar para chegar ao Diário, que sempre, sempre mesmo, gosto muito.
Não acho que esteja sendo leniente. Ao contrário: não aguento ler a maioria das outras coisas com ambições semelhantes, que tentar criar um verniz de qualidade a partir do puro e absoltuto nada. Comprei uma edições da Rolling Stone brasileira e da Trip, e o que posso dizer de bom sobre elas é que o papel é ok. Na internet, então... Gosto de blogs (quando não têm aquela vontade doentia de aparecer, de soar implicante ou irônico, ou quando não são de esquerda), mas não acho ainda o texto que gosto de ler.
Nessas seções pequenas (que levam quase meia edição), piauí sempre honra o estilo da crônica com louvor, e me faz lamentar pelo fato de um Otto Lara Resende não estar mais vivo. É muito difícil escrever desse jeito, e bom, mesmo com textos anônimos, só essas coisas pequenas justicam a assinatura de piauí, ao menos para mim. Isso, claro, sem falar em seus textões - nem todos são JMS, mas quais são realmente ruins, ou provocam sensação de perda de tempo. Repito: leio sempre com prazer.
Um comentário:
Saymon, eu sou uma nigrinha: Acabei renovando a assinatura (por mais dois anos!) porque fiz as contas e vi que no final ia acabar pagando uns cinco reais por revista, e eu acho que pagar uns cinco reais por piauí ainda é justo. Continuo achando, porém, que a revista poderia ser bem melhor do que é agora--e acho que para que isso acontecesse, bastaria que ela se mantivesse fiel a sua proposta inicial de não ser uma revista pautada pelos acontecimentos recentes. Enfim. Também gosto muito de Esquina, que é excelente leitura de banheiro, mas não gosto tanto do Diário, que acho excessivamente copidescado. E na verdade vim aqui te falar da descoberta que fiz recentemente: embora a revista não diga os nomes dos responsáveis por Esquina, o site diz! Dê uma olhada lá depois.
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