Estava achando Buenos Aires muito pouco romântica, mas no meio de um show de tango na Milonga Ideal, num lindo salão de inspiração francesa iluminado só com o básico, entra uma bailarina de traços orientais, de kimono, e se mostra tão intensa quanto as outras colegas argentinas. Caiu a ficha. A última coisa muito romântica vinda daquelas bandas foi dirigida por um chinês, Wong Kar-Wai, e se chama Felizes Juntos.
Na noite seguinte, fui ao Bar Sur, onde WKW rodou sua obra-prima, mas não levei a câmera. O lugar virou um ponto de shows de tango para turistas, meio armado, mas o cenário apertado de prédio antigo-decadente com aquele chão xadrez, somado à excelência da música e bailarinos mantêm o interesse para além das memórias do filmão de 90 e poucos. Fica na Estados Unidos, uma ruazinha de pedra em San Telmo:
Mas em quatro dias de Buenos Aires, percebi que, se os filmes argentinos contemporâneos passam praticamente ao largo da tradição de passionalidade pela qual o país é famosa, eles o fazem porque estão em sintonia com a vida das pessoas hoje lá. Os porteños que conheci me pareceram bem mais próximos de personagens de Juan José Campanella do que dos protagonistas das letras de tango, uma gente boa meio inconsciente do conjunto maravilhoso de prédios do século 19 que predomina na cidade - ou talvez, uma gente tão integrada a esse cenário que não se destaca dele.
Estão todos vivendo na corda bamba, tentanto levar a vida em meio a sucessivas crises, e ainda com certo estilo. Antes da paixão, o cotidiano - mas talvez essa conclusão seja realmente óbvia. Enfim, voltei de lá gostando mais ainda de filmes como Abraço Partido e Leis de Família, de Daniel Burman, Clube da Lua e O Filho da Noiva, de Campanella, e Família Rodante, de Pablo Trapero. São filmes que sabem o que está acontecendo.
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