quarta-feira, maio 06, 2009

Redimindo Christiane Torloni

Tudo bem que os jogos não passam ao vivo, o Jornal Nacional é de madrugada (e gravado), e os programas passam sempre com atraso, seja de um dia, como no caso das novelas, ou de uma semana ou mais (Video Show, Jô, Huck). Ainda assim, a Globo Internacional tem uma programação melhor que a da Globo regular, que vemos no Brasil.

O principal motivo para isso é o tamanho reduzido dos intervalos (menos anunciantes), o que causa uma necessidade de um número maior de programas, que vêm importados das tvs a cabo parceiras, como Multishow e GNT. Não que isso seja lá grande coisa, mas é melhor que a velha Sessão da Tarde. Sem contar que há a oportunidade de rever atrações que, no Brasil, não serão exibidas mais nunca.

Logo que cheguei aqui, o cartaz do Vale a Pena Ver de Novo era O Cravo e a Rosa, definitivamente a melhor novela da Globo desde Renascer, e último trabalho completo de Walter Avancini. Como as reprises de folhetim também passam no sábado, o Vale a Pena tem programação diferente do Brasil. Agora, ainda estamos vendo Mulheres Apaixonadas, e com sorte, podemos ficar livres de Senhora do Destino.



Sobre Mulheres Apaixonadas em especial, a reprise está sendo uma grata surpresa. Quando vi no horário das oito, a novela não me parecia tão boa, especialmente por causa da chatice politicamente correta das "campanhas" de Manoel Carlos: respeito aos idosos, alcoolismo, mulheres que amam demais... E principalmente o primeiro passo sobrenatural da garota que vê o anjo da morte, situação patética que culminaria no fantasma que perturba Lilia Cabral em Páginas da Vida.

Pois bem, isso tudo é chato, mas concentrar-se nisso nubla o fato de que o núcleo central da novela é realmente muito bom. Christiane Torloni foi muito criticada na época por sua Helena fraca, indecisa, claudicante, em oposição às mulheres mais fortes e carismáticas interpretadas por Regina Duarte, e principalmente, por Vera Fischer, inesperadamente firme em Laços de Família.

A fraqueza projetada por Torloni, vejo agora era justamente a melhor coisa da novela. Temos uma Helena mais humana, vulnerável, falha, de composição muito mais próxima a um personagem de cinema do que das reduções típicas da tv brasileira. Helena empurra um casamento com a barriga, decide se separar sem muita convicção - excelente um capítulo inteiro dedicado a recaída dela com o personagem de Tony Ramos, Téo -, depois firma os pés e sabota deslealmente o relacionamento de seu antigo amor do passado, claro, o indefectível José Mayer. Torloni teve na mão a Helena mais difícil de defender, e saiu inteira, muito melhor do que a caricatura de perua que encara atualmente, na terrível Caminho das Índias.

De resto, Mulheres Apaixonadas tem a força agradável daquele vagar manoelino, uma escrita sem história quase sempre bem azeitada. Pouca coisa realmente acontece, além das polaróides cotidianas do classe média alta carioca. Que bom, enfim, que nos textos de Manoel Carlos não acontece "nada": ele transformou em constante e meio de expressão o pesadelo de todo telenovelista, a "barriga". Criou, numa tv cansada e repetitiva, algo mais ou menos original.

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Em registro totalmente oposto, o da intriga rocambolesca, a TV Pública de Angola exibe a também excelente Força de um Desejo, de Gilberto Braga, com o último lampejo de magnetismo verdadeiro de Malu Mader, acompanhada de elenco afiadíssimo: Fábio Assunção, Cláudia Abreu, Marcelo Serrado, Reginaldo Faria, Selton Mello, uma surpreendente Lavíni Vlasak, e claro, a veneranda Nathália Thimberg.

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Atualmente a Globo Internacional reprisa uma das melhores minisséries da Globo nos anos 90, Engraçadinha. Ontem passaram o capítulo da transa de Claudia Raia e Alexandre Borges na chuva. Algumas coisas de que me lembro muito dessa minissérie: a) direção inspirada, com câmera solta, na mão, por Denise Saraceni; b) uso perfeito da narração em off, especialmente a do personagem de Paulo Betti e seus pensamentos escrotos; c) Maria Luísa Mendonça genial no personagem homossexual mais forte já visto na tv brasileira, sem nenhum tique cômico.

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Não tenho paciência mas abri um Twitter...

4 comentários:

Zazá disse...

Realmente Christiane Torloni é uma atriz com um talento incomparavel . Apesar das criticas sempre achei sua Helena uma das melhores já feitas na TV brasileira porque tirou aquela idéia de Helena , a mulher perfeita , a mulher invencivel , a protetora dos fracos e oprimidos e tornou Helena uma mulher de verdade. Uma mulher que erra , uma mulher que sofre por amor , uma mulher que faz os outros sofrerem por amor , uma mulher que chora , que sorri , que briga , que pede desculpas (geralmente na cama ;x), uma mulher que eh mulher e que acima de tudo é HUMANA .

Papo Fliôre disse...

Concordo plenamente era uma anti heroína, só a Christiane Torloni mesmo p/ convencer, mais q deu muito trabalho p/ ela essa personagem, ficou na cara, as pessoas queriam uma "Helena materna = Regina Duarte"... Mas ela mandou o recado bem, eu simplesmente amei, comparo a Helena c/ a Dinah de A Viagem!! p/ me Mulheres Apaixonadas foi a melhor novela da Globo!!!

Papo Fliôre disse...

Concordo plenamente era uma anti heroína, só a Christiane Torloni mesmo p/ convencer, mais q deu muito trabalho p/ ela essa personagem, ficou na cara, as pessoas queriam uma "Helena materna = Regina Duarte"... Mas ela mandou o recado bem, eu simplesmente amei, comparo a Helena c/ a Dinah de A Viagem!! p/ me Mulheres Apaixonadas foi a melhor novela da Globo!!!

Amanda Lisbôa disse...

Christiane é uma atriz esplendorosa e inarrável tamanho talento e amor a arte!Expressão corporal tão bela na dramaturgia, não há! É Daquelas que sente cada personagen que interpreta na carne, na alma, se dedica com todo amor, carinho e dedicação e entra em cada uma por completo! A Helena de Christiane, foi a Helena mais magnífica e marcante de todas de Manoel Carlos, pois como mesmo citado acima, era uma personagem dificílima de ser interpretada! Porém Christiane mais uma vez usou toda sua percepção de vida e artistica e defendeu a personagem com furor a ponto de não conseguirmos imaginar outra atriz fazendo o papel tão magníficamente como ela! Aliás, não há personagem de Christiane que possa ser substutuido por outra atriz, tamanha verdadê cênica e originalidade que ela introduz a cada uma!