sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Os Miseráveis


Não entendo a reclamação pelos close-ups extremos usados por Tom Hooper nos números musicais de Os Miseráveis. Acho que são completamente justificados, e não apenas eficazes no todo, mas muito fortes nos grandes números do espetáculo. Os Miseráveis é daqueles musicais gigantescos na voz mas contido nos movimentos, sem cenas de dança, todo composto a partir de baladas, então as canções só ganham força se os atores mostrarem expressividade, e chegar a câmera bem perto foi uma ótima ideia.

Além disso, os closes realmente não me parecem excessivos. Hooper tem essa mania de fazer planos contraintuitivos (aka tortos), mas eles funcionam aqui, especialmente porque às vezes ele alterna entre três ou mais ângulos de close. Há uma dinâmica bem jogada com os altos e baixos da música, um andamento bem pareado entre câmera e canção. Quando ele abre a imagem, também funciona, especialmente nos movimentos, na correria. Ele traz o musical pro nível do chão, da testemunha, mesmo quando a gente olha e diz “que plano feio”. É feio, mas é funcional.

Claro que a opção pelo elenco cantar ao vivo e essa emoção num nível sempre alto (um problema da música, sobretudo) banalizam os grandes momentos, e às vezes esvaziam o sentimento por falta de contraste, tornam este sentimento apenas uma referência apenas musical, e não dramatúrgica. No entanto, para cada número ruim de Russell Crowe (muito mal escalado), o filme tem na manga momentos arrebatadores de melodrama pra te trazer de volta. Afinal, que raio de filme tem três showstoppers tão incríveis como I Dreamed a Dream, On My Own e Empty Chairs and Empty Tables?

Esses momentos não seriam tâo fortes, claro, não fosse o elenco. Anne Hathaway vai ganhar merecidamente o seu Oscar, mas pena que Samantha Barks e Eddie Redmayne (que surpresa, excelente cantor) tenham sido eclipsados. Eles desfibrilam o coração do filme toda vez que ele ameaça parar, afogado em tanto chororô. De repente tudo soa autêntico novamente, forte, emocional de verdade e não por tabela. É um bom filme, e nessa escala Oscar é bem melhor que embustes autorais como Amour, produtos vulgares de prestígio como Argo ou, horror dos horrores, comédias nulas como O Lado Bom da Vida. Aliás, eu diria mesmo que a primeira meia hora é espetacular.  

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