terça-feira, fevereiro 05, 2013

The Master


Três filmes depois já dá pra perceber, mas quando Paul Thomas Anderson fez chover sapos, ele estava esgotando uma vertente de criatividade e partindo com todas as forças na direção contrária. Nos seus primeiros filmes ele explorava o que havia em comum entre um grupo imenso de personagens, desenhando com todas as forças de texto e imagem uma lógica para unir essas pessoas: a fraternidade, em Boogie Nights; Deus, na falta de palavra melhor, em Magnólia.

Seus três filmes seguintes são retratos de indivíduos sem qualquer chão, apoio ou muleta de sustentação, perdidos no mundo. Em Embriagado de Amor há ainda uma redenção via amor romântico, mas depois disso, nada. The Master, agora, parece ser o cume de um caos absoluto, trazendo essa falta de chão pro nível do próprio cinema, e não apenas na trajetória dos seus personagens. Faz tempo que não via um filme americano tão desconjuntado, desarticulado, desprovido de causas e efeitos, sem centro, sem estrutura.

O que temos, em resumo, é uma vida pontuada em alguns trechos, como se PTA abandonasse o personagem toda vez que consegue iluminar algum aspecto de sua personalidade, mesmo que as situações nas quais ele esteja envolvido não se tenham resolvido. Não é um filme escravo do roteiro, ou mesmo das pessoas, mas do que interessa ao diretor observar nestas pessoas, o que ele faz sem muito rigor, livre para abortar suas tentativas quando elas não vão muito adiante.

Qualquer tentativa de desenhar um plot a partir desse filme é inútil. Os fragmentos não se colam, não há um quebra-cabeça a montar, um twist lancinante no fim para nos fazer reconsiderar tudo. A cada elipse, a cada anticlímax, o diretor acentua a mudança de seus próprios interesses como cineasta, de alguém que parecia querer o controle de tudo via texto para um autor muito mais entusiasmado com a experimentação e com as possibilidades de aproximar essa experimentação do seu atual ponto de vista sobre a vida, instável, insegura.

Nenhum comentário: