>>> Vi ontem Estrela de Fogo, filme de Don Siegel estrelado por Elvis Presley. O cantor é Pacer, mestiço que vive com pai e irmão brancos, e mãe índia. Quando os kiowas começam a lutar contra os brancos, os dois lados pedem a Pacer uma tomada de posição. A intransigência tem muito a ver com os Estados Unidos. A preocupação principal de Siegel é o que sobra da família depois de tanta violência. A tragédia inevitável nada tem de racista. A impossibilidade da miscigenação não é apresentada como lição, mas como comentário político dos mais pessimistas.
Muitos faroestes são construídos assim: a violência não existe para fins de entretenimento. A morte é elemento de pressão, para que o diretor pense as relações humanas num ambiente hostil. Em clássicos do porte de Um Certo Capitão Lockhart, A Face Oculta, ou no maior dos westerns, Os Brutos Também Amam, os laços que importam são familiares. A não contar as convenções de gênero, o que separa esses filmes dos melodramas de Douglas Sirk?
>>> Dia de Finados foi centenário de nascimento de Luchino Visconti. Coincidência perfeita: Visconti foi o cineasta da decadência, e o caminho provável de todos os seus filmes é a morte, o fim. Ninguém registrou dessa maneira o processo de declínio e destruição - de relações humanas (Obsessão, O Inocente) e políticas (O Leopardo, Ludwig). Rocco e Seus Irmãos é seu filme mais influente. Visconti mistura literatura russa e ópera para construir o épico do povo.
A família pobre tentando sobreviver em Milão, Rocco imaculado ganhando dinheiro na violência cotidiana do boxe, separado do irmão volúvel pelo amor da prostituta Nadia - é o auge do roteiro no cinema. Junta o inconciliável: o ambiente neo-realista, mas tratamento de grande melodrama. Era Uma Vez na América também não é neo-realista, mas não existiriam sem a lição de Visconti: levar a suntuosidade narrativa para as paixões violentas do mundo de verdade.
A família pobre tentando sobreviver em Milão, Rocco imaculado ganhando dinheiro na violência cotidiana do boxe, separado do irmão volúvel pelo amor da prostituta Nadia - é o auge do roteiro no cinema. Junta o inconciliável: o ambiente neo-realista, mas tratamento de grande melodrama. Era Uma Vez na América também não é neo-realista, mas não existiriam sem a lição de Visconti: levar a suntuosidade narrativa para as paixões violentas do mundo de verdade.
O Poderoso Chefão é herdeiro do Rocco, mas também tem os dois pés em O Leopardo. "As coisas devem mudar para continuarem as mesmas", é o dito de Tancredi para o Princípe de Salina, seu tio. Visconti filma uma morte social, eterna adaptação da aristocracia aos novos poderosos. Vito Corleone, acuado e antiquado, abre o caminho para o filho Michael. Este se torna mais poderoso que o pai, às custas de seu valor fundamental: a família. Assim, voltamos ao Rocco.
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