Volver
Almodóvar enfileira mais um grande filme na seqüência que começou com Carne Trêmula, em 98. Volver, ao contrário dos dois últimos, não é sobre homens, e tem alto nível de humor. Celebra a força das mulheres, capazes de se reerguer do nada e superar tudo – transformam a tragédia em combustível, o fundo do poço em mola de propulsão. Acho que a frase é do próprio Almodóvar, mas se aplica a Woody Allen, Antonioni, Bergman, George Cukor, etc. “Gosto de filmar mulheres porque elas têm mais pedaços”. Talvez não, e o espanhol já foi capaz de mostrar a complexidade do mundo masculino. Mas, em Volver, ninguém duvida que ele sabe tudo de mulher. Dos seus filmes sobre mulher, esse é o melhor, mais humano, e mais plácido também. Ele chegou no ponto da carreira de pensar na morte, e usa o exemplo do afeto feminino para celebrar o perdão e a reconciliação. Lelouch falou sobre Spielberg depois do lançamento de E.T., mas a sugestão é perfeita para o momento:”Ele não deveria ganhar Oscars, e sim o Nobel da Paz”. (Almodóvar, mesmo em versão simples e enxuta continua muito apaixonado por cinema. Depois de fazer Tudo Sobre Minha Mãe para Bette Davis, Volver é homenagem a Joan Crawford: o drama de mãe e filha vem todo de Alma Em Suplício, de Michael Curtiz, e Almodóvar supera o filme antigo. Na televisão, já perto do fim, Belíssima, de Visconti).
Os Infiltrados
Para Scorsese, Os Infiltrados é ponto alto depois de dois filmes infelizes, e, como quase sempre, tem um magnífico ensemble masculino. Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Matt Damon e Leonardo DiCaprio se envolvem num complicado jogo de espionagem de polícia e ladrão no submundo de Boston. Violência corre solta, e Scorsese acerta em cheio no personagem desequilibrado do excelente DiCaprio. Ele é o ponto de distanciamento da selvageria dominante, e o que impede o filme de ser “só” mais um filme de ação bem realizado. Aliás, bem realizado é pouco, filme é um primor de roteiro e montagem – ou seja, administração da história. Tensão explode. Ainda assim, a expectativa de um novo Cassino pode provocar um pé atrás. Pena não ver Joe Pesci, os travellings, os offs superpostos... Mas o que ele já fez é muito bom.
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