terça-feira, dezembro 25, 2007

Feliz Natal

Folga de natal até amanhã; passei a última semana correndo de cinema em cinema, pegando pilhas de filme na locadora. Tanta despesa para preparar o texto de melhores do ano do cinema em 2008, que será publicado em Nacocó. Sem entrar em muitos detalhes, acho que este foi um ano excelente, vi vários filmes perturbadores, outros tradicionais, mas completamente azeitados, enfim, muita variedade. E ainda faltam essas estréias da última semana - dentre as quais, Em Busca da Vida, de Jia Zhang-ke, do qual tanto se fala por aí.

Nesse ínterim, ainda consegui ver uma outra pérola mais antiga, como A Cidade do Amor e da Esperança, primeiro filme de Nagisa Oshima, ou Sublime Obsessão, melodrama de Douglas Sirk, dos menos ácidos. Tento ler também minhas piauís atrasadas, terminar a biografia de Capote, acompanhar os blogs que gosto. Estou de volta, à tona.

Feliz Natal. Em homenagem a Martin Scorsese, Gabriela, Setaro e outros admiradores de Agora Seremos Felizes, de Vincent Minnelli, deixo um clipe do filme, de Have Yourself a Merry Little Christmas. Para os mais profanos, basta clicar aqui para ver a genial Lindsay Lohan salvar o dia em Meninas Malvadas, cantando o Jingle Bell Rock.




Editado: Tive de trocar o link para o Jingle Bell Rock, porque a Paramount pediu ao Youtube que tirasse o vídeo do ar. Que coisa mais cretina, o vídeo é excelente propaganda do filme (por sinal, ótimo).

domingo, dezembro 16, 2007

Baixio, entorpecente

Muito bom o Baixio das Bestas, de Cláudio Assis. Filme ficou um bom tempo em cartaz, mas perdi. Agora, na retrospectiva em cartaz no Cinemark consegui ver. Primeiro aspecto digno de nota é a evolução gritante de Assis em relação a Amarelo Manga. Filma extraordinariamente, domínio técnico impressionante, alguns planos realmente dignos de antologia. A câmera sobe desce, freqüenta os interiores, explora os ambientes, joga o espectador lá. Roteiro econômico, fala na hora certa, muito menos teatral do que no filme anterior dele. Dá pra acreditar do que está sendo dita na tela, desta vez, com uma ou outra bola fora. Aliás, elenco incrível.

Detratores ferozes o acusam de usar esse repertório cinematográfico para glorificar o que filma, um pequeno inferno no interior de Pernambuco. Talvez eu tenha visto outro filme, mas Baixio é um dos filmes mais angustiantes e pessimistas dos últimos tempos. Não tem auto-congratulação pela perfeição da pobreza - ao contrário, filmar "melhor", da maneira que Assis faz aqui, é amplificar seu impacto. Não é embelezar o inferno. É torná-lo inquietantemente próximo do espectador. Saí com a cabeça rodando.



Assis monta o filme seguindo um pequeno grupo de personagens: uma garota explorada pelo pai-avô (à Chinatown), dois agroboys sem limites, um grupo de prostitutas. O filme não anda pra frente, e vale o pleonasmo. Pega uns flashes de um lugar, sem início, fim, só um breve panorama da coisa toda, mas sem nenhuma intenção sociológica - o filme não é pregador. O que fica na cabeça um retrato rigorosamente composto de um ambiente infernal, que Assis cria num nível quase orgânico. O filme tem cheiro de cana, fumaça, mosquitos. Intoxicante.

Numa comparação rápida, durante a projeção, dois filmes me pareceram primos: O Pântano, de Lucrecia Martel, e obra-prima A Humanidade, de Bruno Dumont. São filmes melhores que o de Assis - que ainda tem seus excessos-assinatura, que sabotam o filme aqui e ali, sem grandes danos -, mas é animador ver um cineasta brasileiro se alinhando com gente desse tipo. Não por imitação ou inspiração, mas por sintonia.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

De Volta Pro Aconhego

Acabou. Quer dizer, não acabou, ainda vou fazer algumas mudanças, mas a fase monografia está praticamente superada, e posso voltar à vida normal. Durante todo esse ano, meu "livro de ônibus" foi a edição reunida dos três Febeapá de Stanislaw Ponte Preta. Leitura incrivelmente carioca, papinho de Lapa, Leme, Copa e Ipanema, cerveja, boemia e "essas bossas".

Mundo bom, talvez, jornalistas, praias, Rio, anos 60, clima Domingos de Oliveira. Sim, mas também há de se lembrar que o humor irresistível e insinuante de SPP é uma reação à idiotia que assolou o Brasil depois do golpe de 64. SPP, ou Sérgio Porto, seu nome de batismo, morreu antes do AI-5 com quarenta e poucos, do coração.



Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta

Depois de terminar essa leitura de meses - uma crônica por dia, às vezes por semana, mais ou menos - comecei a biografia de Truman Capote que ganhei de aniversário. Mal posso esperar para a hora da festa à fantasia de preto e branco, que Sérgio Augusto descreveu tempo atrás no Estadão com base no texto dessa biografia, e com texto melhor, claro. Traduzido por Lya Luft, o livro de Gerald Clarke é fácil e rapidamente devorável (ou a "história" é muito boa?), mas penso no que um SA ou Ruy Castro faria com o material. Bom, talvez eu goste sempre de ler o mesmo livro.

Voltei a ver filmes também. A Comédia do Poder não é um Chabrol do nível de A Besta Deve Morrer, O Açougueiro ou A Mulher Infiel, mas mantém o padrão sedutor e estiloso de seus últimos longas - A Dama de Honra, A Teia de Chocolate, Negócios à Parte. No entanto, tem uma coisa que o destaca dos demais: uma das melhores interpretações da grande Isabelle Huppert, sutil, inexcedível.



Huppert, provavelmente a melhor atriz da atualidade

No geral, ela costuma pegar papéis de mulheres reprimidas, com uma aparência de dureza e fragilidades emocionais não evidentes. Essa divisão é bem visível, até a hora que ela não consegue se controlar e vira freak, como em A Professora de Piano, provavelmente seu melhor trabalho. Aqui, ela é completamente resolvida, segura, quase doce, mas há sempre mais do que isso no seu rosto. Uma ponta de vaidade, um senso de humor delicado, mas sádico, alguma tristeza.

Mas isso tudo não parece deslocado do personagem, como forma fundo. O personagem é uno, não atua, e é maravilhoso ver Huppert administrar essa construção mais complexa. Com o rosto, ela parece tocar no piano uma melodia minimalista e discreta que o personagem dessa juíza linha dura. O filme é muito mais um perfil de mulher do que qualquer ensaio sobre política e corrupção.



Law, Binoche e Robin Wright Penn

Outro: Anthony Minghella, diretor de O Paciente Inglês, O Talentoso Ripley e Cold Mountain volta à tividade com um filme pequeno, nada épico, Invasão de Domicílio. O longa se passa em Londres, e mostra as relações perigosas de um arquiteto e uma imigrante bósnia. Não dá para esperar uma tensão política forte de coisas como Caché e Código Desconhecido, mas o filme até que constrói bem os laços humanos da coisa toda.

Isso, até entrar em modo de auto-destruição, com um desfecho improvável, medroso e covarde, tirado da cartola. Nem morde tanto, e já assopra desse jeito... Em tempo, Jude Law está excelente. Juliette Binoche, quarentona, mas linda e sexy mesmo desglamourizada, mostra um pouco da carne que recheou a Playboy francesa de dezembro.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

The Key to Reserva

Fãs de Hitchcock, mas principalmente, fãs de Scorsese, o filme do ano não é nenhum Resnais, Chabrol ou Eastwood. Do mesmo modo que Wong Kar-Wai para a BMW, Marty fez uma brilhante homenagem a Hitchcock para o comercial de fim de ano da vinícola espanhola Freixenet. É o gênio de 2007.

Scorsese interpreta a si mesmo, sendo convencido por um produtor a filmar um falso roteiro perdido por Hitchcock, The Key to Reserva. A emulação é sensacional, nível Brian De Palma, e ainda tem uma piada final absurdamente perfeita. Para ver várias vezes e catar as referências.

Via Hollywood Blog