sábado, fevereiro 25, 2017

La La Land

La La Land taí provando pra gente que um filme pode até dar as suas vaciladas, mas se consegue um final matador, o impacto do todo aumenta exponencialmente. Sensacional aquele número final, uma mistura improvável de Sinfonia de Paris com A Última Tentação de Cristo, um momento raro de sucesso no filme de dar pungência ao número musical, uma razão de ser.

Na maior parte do tempo, o filme não consegue sustentar a ideia de ser um musical, ou seja, os números estão ali para seguir um conceito. Não é assim que um musical funciona. Pra você pôr uma pessoa cantando em vez de pensando, ou falando, o filme tem que convencer de que a intensidade de cada momento é mesmo inevitável, e de que só a música dá conta. Você pode ter um fiapo de história, mas se a música se fizer sentir como inevitável ou a encenação de uma emoção pedir e implorar por essa suspensão da realidade, o musical vai dar certo.

No caso de La La Land, achei o todo meio cambaleante, a começar pela oportunidade perdida dos dois primeiros números. Tenho a impressão de que como ninguém mais filma musical, os diretores perderam a noção de coisas básicas.

Tipo: você para um viaduto pra filmar e decide fazer tudo em plano sequência, de perto. Como diria Trump, WRONG! O filme perde totalmente a noção de espaço e a gente fica implorando por um plano aberto grande, que só vem quando a música tá no fim. A mesma coisa pro número da festa: na hora da cena explodir, o cara mergulha a câmera na piscina e ninguém vê patavinas. SAD!

A sorte do filme é que as baladas são boas, City of Stars é um chiclete mental avassalador e que essa atmosfera Jacques Demy tem mesmo um grande charme. A construção da aproximação do casal tem o momento genial do planetário, com aquele passeio pelo espaço que não deixa de ser uma versão sideral do passeio pelo Central Park de Fred Astaire e Cyd Charisse em The Bandwagon.

O filme se arrasta um pouco no meio e os conflitos da historinha de boy meets girl parecem artificiais, algo que só percebemos porque faltaram pelo menos mais duas canções ali no meio, de preferência um showstopper com algum bom coadjuvante, o que o filme praticamente não tem. Enfim, eu gostei da coisa toda mais como conceito do que como execução, mas nem de longe é um mau filme.

E, voltando ao final, eu gosto especialmente como ele funciona como uma ilustração literal da ideia do musical como reconstrução do mundo real, como se fosse uma coisa política. O escapismo não é alienante, é um ato de revolta, mas, vejam, no final a realidade acaba transbordando. Sejam pelos desencontros da vida, como nesse caso, sejam por motivos mais frontalmente políticos, como a guerra da Argélia para Os Guarda-Chuvas do Amor, a realidade sempre assombra. O cor-de-rosa do musical no fundo não nos quer fazer esquecer dessas agruras, e sim realçar por oposição tudo o que é terrível na existência.

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