Detratores ferozes o acusam de usar esse repertório cinematográfico para glorificar o que filma, um pequeno inferno no interior de Pernambuco. Talvez eu tenha visto outro filme, mas Baixio é um dos filmes mais angustiantes e pessimistas dos últimos tempos. Não tem auto-congratulação pela perfeição da pobreza - ao contrário, filmar "melhor", da maneira que Assis faz aqui, é amplificar seu impacto. Não é embelezar o inferno. É torná-lo inquietantemente próximo do espectador. Saí com a cabeça rodando.
Assis monta o filme seguindo um pequeno grupo de personagens: uma garota explorada pelo pai-avô (à Chinatown), dois agroboys sem limites, um grupo de prostitutas. O filme não anda pra frente, e vale o pleonasmo. Pega uns flashes de um lugar, sem início, fim, só um breve panorama da coisa toda, mas sem nenhuma intenção sociológica - o filme não é pregador. O que fica na cabeça um retrato rigorosamente composto de um ambiente infernal, que Assis cria num nível quase orgânico. O filme tem cheiro de cana, fumaça, mosquitos. Intoxicante.
Numa comparação rápida, durante a projeção, dois filmes me pareceram primos: O Pântano, de Lucrecia Martel, e obra-prima A Humanidade, de Bruno Dumont. São filmes melhores que o de Assis - que ainda tem seus excessos-assinatura, que sabotam o filme aqui e ali, sem grandes danos -, mas é animador ver um cineasta brasileiro se alinhando com gente desse tipo. Não por imitação ou inspiração, mas por sintonia.
2 comentários:
tá eu também vou esperar Godard aqui...
sejá lá quem ele for.
te vi comentando sobre "não por acaso"
vim conferir.
sem mais conclusões...
até mais.
Esse é um filme que quero muito ver, perdi nos cinemas, mas espero fazê-lo em breve em DVD.
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