Acho difícil que Leal não tenha espelhado o retraído herói francês no modelo de Frank Sinatra, que, num clássico perfil escrito por Gay Talese, foi flagrado num momento de "angústia, depressão profunda, pânico, e até fúria". Sinatra tinha um resfriado.
(O texto de Talese foi escolhido como a melhor reportagem já publicada pela revista americana Esquire, e pode ser lido, na íntegra, aqui.)
Em uma das breves passagens por Salvador desde que foi para o exílio, disse a Claudio que outro destes textos escritos para Terra Magazine tinha uma referência no final, que eu dizia ter vindo de Truman Capote.
Claudio terminava sua memória do recém-falecido Bruno Tolentino com um "Que poeta sumiu naquela rua", que eu tinha certeza ser citação à descrição de um breve encontro de Capote com Greta Garbo, na saída de um antiquário em Nova York. O texto de TC está em Os Cães Ladram, e já até fiz transcrição desse trecho aqui no blog.
Claudio identificou a referência, disse que tinha a ver, mas não fez pensando nisso. O caso do texto de Zidane é menos sutil, a citação é imperativa.
De qualquer jeito, o mais bacana dos textos de Claudio é isso: sempre projetam outra coisa além do que está escrito, entregam ao leitor algo mais do que a superfície. O leitor ganha, não apenas um ponto de vista mais elaborado, mas o brinde de algo para ler depois, ver, correr atrás, mesmo que seu objetivo passe longe de ser didático.
Já deve ter seis meses desde que Claudio se mandou daqui, onde escrevia editoriais sensacionais para a página de Opinião de A Tarde. Agora, no Terra Magazine , pelo menos seus últimos textos se eternizaram.
A não ser que o leitor tenha recortado ou anotado as datas, como fazer para achar os editoriais de CL? Meu preferido era um sobre Cosme de Farias, e sobre como todo baiano tem histórias com ele. (Eu não tenho). Claudio narra uma visita de Farias a casa do bisavô, Herundino (Leal?), cheio daquele tom antigo, irreverente, saudoso da Cidade da Bahia.
Tom aliás, que parecia anacrônico a muita gente, já que, como ele constatou, a cidade que ele gostava já morreu. O brilhantismo de Claudio era um elefante na sala de estar de Salvador, já não tinha espaço aqui. Não conheço São Paulo, mas acredito que, por lá, há mais chances de que seu talento não seja sufocado, de que sua escrita não pareça apenas resmungo de um velho de vinte e poucos anos.
2 comentários:
haha vc é muito gentil
ah, e bonito o q vc escreveu neste post
Gosto muito dos artigos de Claudio Leal. A Tarde, com as suas belas crônicas (aquela do Pacheco"=Gedel foi demais!), ganhava um cronista, com Leal, um novo estilo de escrever e de falar coisas que gostariamos de dizer com outras palavras... Ele escrevia com profundidade e batia legal, mas a liberdade de Castro Alves e a nossa sociedade, ainda são as mesmas é só ler a carta do poeta a Eunapio Deiró pra entender o que escrevo agora... Ah, Castro Alves e Andre Chenier, quanta semelhança em Gonzaga e a escrava e ALVES dizia a Deiró: não, nunca li Chenier... Cada um com sua estrela. Claudio brilha, como diria Pessoa, porque alto vive!
A Tarde anoiteceu no alvorecer de SAMPA e a luz do sol, de lá, nos traz à claridade de volta, enquanto nós, tal qual uma folha, tragamos e traduzimos, em outras palavras e outros olhares e quereres. E o sol brilha mais que no primeiro, sinal de que, nestes dias... Ah, deixa prá lá, Claudio é o 2 de Julho e com ele nasce o sol da liberdade.
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