segunda-feira, maio 05, 2008

How Little We Know

Eu só li duas coisas de Faulkner na vida, O Som e a Fúria, na linda edição da Cosac Naify que peguei na Biblioteca Central dos Barris, e o conto A Rose For Emily, para uma aula da pós da Facom que eu pegava como ouvinte. O conto é bom, mas fácil de esquecer, o livro é fenomenal como todo diz, tão arrojado e agressivo e intrincado que consegue mesmo nos distrair do barato de que aquilo tudo é mais um teste de linguagem do que qualquer outra coisa. Não sei, acho que a inner America combina mais com a clareza e a limpidez de um Steinbeck, outro cara que li pouco, só A Leste do Éden.

Lembrei de Faulkner porque estava hoje convertendo meus divx de CD para DVD, quando abri o arquivo de The Big Sleep. À Beira do Abismo é adaptação de O Sono Eterno, de Chandler. Chandler é dialogista genial, tem aquelas frases arrancadas do asfalto (quem disse isso? Li num texto de Ruy Castro, acho), mas o tom do filme dirigido por Howard Hawks beira à comédia romântica. Há assassinatos, mulheres fatais e gente traiçoiera, como em todo filme noir, mas o clima é mais espirituoso do que trágico. (Como naquele pastiche de noir feito por Truffaut, Atirem no Pianista).

Tudo foi enxertado depois, no rastro do sucesso de outro filme da dupla Hawks-Faulkner. Em Uma Aventura na Martinica, Humphrey Bogart e Lauren Bacall explodiam um contra o outro com alguns dos melhores diálogos já escritos. Com o sucesso, Faulkner apimentou as cenas de À Beira do Abismo. Bom, minha cena preferida de Martinica:



Tem muitos filmes de Hawks que eu ainda não vi, e muitos do que vi são obras-primas absolutas. Falo de Onde Começa o Inferno, ou Levada da Breca, mas, no fundo, acho que Uma Aventura na Martinica é o que mais gosto.

Aliás, a música do filme é muito boa. Há a sensualidade elegante de Bacall cantando How Little We Know, e ainda tem esse brinde, Hoagy Carmichael melancólico no Hong Kong Blues. Clima perfeito de lugar isolado, lugar habitado por estrangeiros inteligentes demais pro próprio bem, certamente melancólicos. Fumantes, claro:

Um comentário:

Angelov disse...

opa, já esqueci
tb não suporto este assunto

bisoux

ps: li um texto do ruy castro sobre jeanne moreau e lembrei de vc, claro
naquela revista nova da folha, "serafina"