quarta-feira, julho 16, 2008

Nós que aqui estamos

Bati um papo certa vez com um colega do jornal sobre Asas do Desejo, um filme que eu preciso rever, urgentemente, porque só vi em VHS. Lembro que falei da minha cena preferida, a da biblioteca. Achei agorinha no YouTube. Olhem que coisa linda, cena com cara e visual que só um diretor alemão pode fazer, mas com uma humanidade e paixão por todos nós que só se vê no próprio Deus, Ele Mesmo.

Com 2:18, por aí, tem um frame que vale uma carreira inteira, como se o próprio Wenders tivesse vindo à terra somente para filmá-la. O garoto vê o anjo, e, como resposta, o cara dá algo que parece um sorriso, de amor - não exatamente pessoal, mas coletivo, que abarca cada pessoa que vive sobre a terra.



Pode-se duvidar que Deus existe, mas o cinema já nos provou várias vezes o contrário - ou há cineastas eloqüentes para nos convencer disso. Seja de maneira dolorosa, como no primeiro episódio do Decálogo, de Kieslowski, arrebatadora, como em Ondas do Destino, a obra-prima insuperável de Lars von Trier, ou desse jeito escolhido por Wenders, terno e carinhoso.

Onde está Wenders, esse grande artista? Vi esse Estrela Solitária no cinema ano passado, e preferia não ter passado pela experiência.

Um comentário:

Omar Monteiro Mendes disse...

Saymon, também assisti em VHS e, logo em seguida, a refilmagem americana "Cidade dos anjos", lá pelos idos dos anos 90. Foram duas experiências extremas e, em certos aspectos, complementares. O original tem estas situações singulares, um ritmo poético, a surpresa, a simplicidade conjugada com a complexidade, o tempo que adoro em um filme (pelo que me lembro). Sensacional. A versão americana, um tanto prematura, já que o filme original nem era tão velho na época , me trouxe sensações também legais, foi uma experiência de pertencimento social. Lembro da menina bonita e charmosa que falou que "achou o filme lindo", do amigo do boteco que achou "quase uma ofensa ao original". Gostei dos dois. Um pelas sensações que você tão bem descreveu e o outro pelas discussões que só um sucesso popular pode suscitar. "vinvenders e aprendenders" (não resisti)