sexta-feira, março 20, 2009

Livros do exílio #2

Ler Irresistível Paixão reajustou minha visão sobre a obra de Elmore Leonard - o cara pode ser gênio do diálogo e do humor absurdo em seus policiais modernos e divertidos, mas quando ele resolve adicionar um componente romântico a essa mistura, uau... Esse livro é o mesmo que gerou o melhor filme de Steven Soderbergh, homônimo, com Jennifer Lopez e George Clooney, indicado ao Oscar de roteiro adaptado.

Lemos, então, o maravilhoso jogo de sedução em versão integral, expansão do lero descontraído entre a agente federal e o ladrão de banco presos num porta-malas, ambos fãs de Três Dias do Condor, aquela joia de ação dos anos 70. Karen Cisco e Jack Foley queriam apenas ter se conhecido em outra ocasião, longe das obrigações profissionais. Talvez eles tenham uma chance na noite fria de Detroit, quem sabe...

A melhor coisa de tudo isso é perceber, ao fim da leitura, que não estamos diante de apenas mais uma apresentação de um virtuose do verbo, mas de algo realmente delicado sobre pessoas, sentimento, com especial atenção para o lado feminino desse quase relacionamento.



Lopez e Clooney na adaptação: now that's chemistry

Já tinha ficado maravilhado com o estonteante romance de Maximum Bob, abortado para efeito máximo de tristeza - isso tudo no meio de assaltos, tiroteios e roubos estapafúrdios. Em Bandidos, a presença maravilhosa de uma ex-freira combatente em alguma Guerra Civil da América Central trazia tempero inesperado a um gênero tão marcadamente misógino.

Para confirmação do respeito do autor pelas complexidades das pessoas, e principalmente, das mulheres, basta lembrar que Jackie Brown, de Tarantino, também veio de um original seu. JB é realmente o melhor filme do diretor, aquele em que os diálogos estão menos a disposição de cinefilia referencial que de uma ou duas intenções românticas entre dois quarentões cheios de tempo livre para conversar sobre nada em especial. Um arraso.

Talvez esse componente seja colateral na literatura de Leonard, mas juntando as peças, ele ganha dimensões realmente intrigantes, que colocam pequenos detalhes soltos de algumas obras sob nova perspectiva. Ler vários livros de um mesmo autor serve mesmo para isso, não?

>>> A Varanda do Frangipani, de Mia Couto. Ganhei de presente do amigo João Pitombo, que morou aqui em Angola ano passado, e disse que esse livro me ajudaria a respirar a África de verdade. Talvez eu devesse ter esperado mais para ter começado a leitura, porque há um claro desajuste entre o livro e mim, como se eu estivesse verde para ele.

Sua narrativa me parece completamente alien, nem sempre de maneira interessante, e por vezes próxima de clichês de realismo fantástico há muito esgotados por Gabriel García Marquéz. Provável, no entanto, que eu não tenha entendido nada.

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