quinta-feira, março 12, 2009

Rigor e movimento

Hum, sem muito tempo para o blog, filmes e livros. Já que não temos muito a dizer, tiramos da cartola uma efeméride. No último sábado a morte de Stanley Kubrick completou dez anos - ele morreu em 1999 antes do lançamento de seu derradeiro longa, De Olhos Bem Fechados.

Na época o filme teve críticas medíocres, mas, claro, sobreviveu lindamente ao tempo e se tornou cada vez mais hipnótico. Inclusive, acho que se pode chamar o filme, sim, de obra-prima - não como exemplo de perfeição, mas de assombro, de genialidade irregular.

Enfim, uma "obra-prima doente", para usar a definição de Truffaut para um dos melhores filmes de Hitchcock, o muito imperfeito e maravilhoso Marnie - Confissões de Uma Ladra. O erro pode ser lindo, é bom sempre lembrar, e se converter em acerto.



Barry Lyndon, o meu Kubrick

Mas esse post não é apenas uma carta de amor a De Olhos Bem Fechados, e sim a todos os filmes de Kubrick, até aos que não gosto de verdade, como Nascido Para Matar. Em cada um de seus pouco mais de dez longas, a marca do gênio é perceptível em apenas alguns segundos.

Talvez seja a combinação da lente grande angular (que amplia a perspectiva) e o uso incessante do branco, que criam a sensação imediata de que a câmera é um robô, dissecando cenários gélidos do futuro. Kubrick ou o mais cerebral dos cineastas.

Embora essa apuração "robótica" realmente salte aos olhos, seus filmes são dotados de uma graça que só é possível vir de humanos. Em O Iluminado, usou com grande efeito a steadicam, a câmera que não trepida durante o movimento.

Isso lhe permitiu percorrer os cenários do Hotel Overlook de maneira impressionante, atingindo o máximo das possibilidades do travelling. Alcançou, então, o ideal de seu paradoxo: rigor de cirurgião e a liberdade de movimentos da dança - ele era um dos muitos herdeiros do cine-valsa do gênio Max Ophuls.

Apesar do impacto "discursivo" (severas aspas, essas) de obras como Glória Feita de Sangue, Laranja Mecânica ou Dr. Fantástico, meu registro de Kubrick, sempre, é seu poder de criar imagens fascinantes. Estilo - o cinema no auge de sua expressão como arte visual. Por isso, meus filmes preferidos dele não poderiam ser outros: 2001 - Uma Odisséia no Espaço e Barry Lyndon.

Nenhum comentário: