Por outro lado, o filme não parece criar maiores desafios para o ator além da elaboração dessa carcaça. É como se o trabalho de Penn fosse todo pré-filme, consistindo em apenas dominar a caracterização e passar pela projeção como outra pessoa, sem muita variação - algo semelhante ao magnífico trabalho de mímica de Jamie Foxx em Ray, e diferente do show de Philip Seymour Hoffmann em Capote, que não apenas era o personagem, mas ia crescendo cena a cena na administração de conflitos dos mais complicados.
Depois que nos acostumamos com o Penn versão homo, a surpresa acaba. Não por culpa dele, mas o filme entra num trilho sindicato-movie bem tradicional, em que os problemas de Milk se resumem basicamente aos altos e baixos políticos, e Penn só precisa sustentar a mesma nota - já alcançada antes do filme começar - com uma ou outra cena mais forte.
Se eu tivesse uma cédula do Oscar na mão, não pensaria duas vezes e marcaria meu voto em Mickey Rourke, por um O Lutador, um trabalho que, ao contrário do vencedor, surpreende o filme todo e tem uma dimensão corporal realmente emocionante, que vai bem além da perfeição técnica de Penn.
Dito isso, eu gosto do filme de Milk, o filme, mesmo que seu estilo quadradão me pareça pouco estimulante na carreira de um diretor que vinha de quatro saltos sem rede seguidos: Gerry, Elefante, Últimos Dias e Paranoid Park. Ainda assim, Milk é muito bem feito, claro produto de um diretor completamente identificado com o material que filma. Tem coração.
PS.: Excelentes coadjuvantes, aliás.
Um comentário:
Sean Penn é um grande ator, sou fã declarada. Mas Mickey Rourke me surpreendeu em O Lutador. Até porque, a imagem que guardava dele era a de sex simbol meio canastrão. Foi uma boa surpresa.
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