segunda-feira, março 23, 2009

Milk

Dá para perceber que Sean Penn é sempre genial logo em uma das primeiras cenas de Milk, que lhe deu o segundo Oscar, no mês passado. A cantada em James Franco é sensacional tanto pela surpresa (Penn nunca faz nada igual) quanto pela precisão com que ele cria o gay levemente caricato, sozinho em sua noite de aniversário. Nenhum traço de afetação é exterior à afetação do próprio personagem. É para aplaudir, porque são raros os atores que conseguem alcançar essa perfeição de composição.

Por outro lado, o filme não parece criar maiores desafios para o ator além da elaboração dessa carcaça. É como se o trabalho de Penn fosse todo pré-filme, consistindo em apenas dominar a caracterização e passar pela projeção como outra pessoa, sem muita variação - algo semelhante ao magnífico trabalho de mímica de Jamie Foxx em Ray, e diferente do show de Philip Seymour Hoffmann em Capote, que não apenas era o personagem, mas ia crescendo cena a cena na administração de conflitos dos mais complicados.



Depois que nos acostumamos com o Penn versão homo, a surpresa acaba. Não por culpa dele, mas o filme entra num trilho sindicato-movie bem tradicional, em que os problemas de Milk se resumem basicamente aos altos e baixos políticos, e Penn só precisa sustentar a mesma nota - já alcançada antes do filme começar - com uma ou outra cena mais forte.

Se eu tivesse uma cédula do Oscar na mão, não pensaria duas vezes e marcaria meu voto em Mickey Rourke, por um O Lutador, um trabalho que, ao contrário do vencedor, surpreende o filme todo e tem uma dimensão corporal realmente emocionante, que vai bem além da perfeição técnica de Penn.

Dito isso, eu gosto do filme de Milk, o filme, mesmo que seu estilo quadradão me pareça pouco estimulante na carreira de um diretor que vinha de quatro saltos sem rede seguidos: Gerry, Elefante, Últimos Dias e Paranoid Park. Ainda assim, Milk é muito bem feito, claro produto de um diretor completamente identificado com o material que filma. Tem coração.

PS.: Excelentes coadjuvantes, aliás.

Um comentário:

Andreia Santana disse...

Sean Penn é um grande ator, sou fã declarada. Mas Mickey Rourke me surpreendeu em O Lutador. Até porque, a imagem que guardava dele era a de sex simbol meio canastrão. Foi uma boa surpresa.