Basta lembrar de frases como "É preciso acreditar nas pessoas", de Manhattan, ou do close em Allen em Maridos e Esposas, cortando pros créditos, com What's This Thing Called Love, de Cole Porter. Ou lances geniais que passam no meio dos filmes sem muito alarde, como o barulho das balas durante a peça em Tiros na Broadway, ou a piada com o cheiro do enxofre na loja de departamentos, em Descontruindo Harry.
Muitos dos últimos filmes dele, ao contrário, parecem ter sido dirigidos em cima de rascunhos. Às vezes rascunhos não inspirados; outras, rascunhos de um grande filme. Esse último é o caso de O Sonho de Cassandra. A obsessão do diretor com tragédia grega ganha um tratamento bem próximo ao de Chabrol, tanto na parte técnica, cheio de planos insinuantes e movimentos de câmera cirúrgicos, quanto na temática, com suas questões de família.
McGregor e Farrell: tragédia em família
Filme vai, em geral, muito bem, mortalmente tenso até boa parte da projeção. De repente, as coisas começam a se precipitar, ser resolvidas rapidamente, como se ele tivesse enchido o saco. Sem explicitar muito: há dois planos de crime no filme. O primeiro cria angústia insuportável, lenta e cruel; o segundo, ainda mais grave, passa rápido demais na tela.
O problema é justamente ver o belo filme que Allen tem nas mãos se desmanchar tão rapidamente, como um castelo de areia atingido pela maré. O desespero que atormenta os personagens se reverte na angústia de ver uma grande obra ser posta a perder. Vale aquela metáfora muito usada por Kléber Mendonça Filho: o filme é uma fruta verde, colhida antes de amadurecer. De qualquer jeito, o efeito do filme ainda é forte, acho. Prova que rascunho de Woody Allen ainda é melhor do que muita coisa por aí.
Outro destaque: Philip Glass desta vez NÃO arruina o filme!
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Falando de filmes brasileiros com potencial de popularidade, Estômago é uma grata surpresa. Primeira vez que vejo filme brasileiro no Cinemark (bem cheio) e a platéia não fica chateada. O filme é bom, tem um final excelente, com inesperado humor negro. Causa algumanirritação, no entanto, ver João Miguel dedicar seu talento mais uma vez a um personagem jeca. Não pela jequice, claro, mas pela repetição. Daqui a pouco ele pára no Zorra Total.
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