Mais sobre Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto depois, mas, por ora, basta dizer que o filme é pá de cal em O Sonho de Cassandra. Dois irmãos & um crime é o resumo dos dois longas, mas Sidney Lumet, do alto de seus 80 e poucos anos, supera o também veterano em todos os critérios de tragédia familiar, em especial angústia e brutalidade.
O filme de Lumet ganha logo na importância atribuída ao crime inicial. Apesar das idas e voltas no tempo, isso é só estopim, ignição, dispositivo de propulsão. O que importa - e o longa está 100% dedicado a esse fim - é registrar os efeitos da violência dentro da família. Isso é o filme todo, e não os apressados vinte minutos dirigidos por Woody Allen.
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O que eu mais gosto em Sidney Lumet é seu domínio de ambientação. Em alguns de seus grandes filmes, ele registrou como ninguém a efervescência da vida urbana, especialmente a partir dos seus crimes. Nos anos 60, a representação da cidade na América pouco fugia das ruas de estúdio, apesar do esforço de gente como Samuel Fuller, por exemplo.
No final dessa década, entrando nos anos 70, na onda de policiais violentos e catárticos como Bullit e Operação França, Lumet deixou sua marca fazendo os filmes urbanos mais tensos da época, registros de cidades à beira de explosão: Serpico e Um Dia de Cão, ambos com Al Pacino no auge dos super-poderes.
Esse último disputa com Rede de Intrigas (aquele que perdeu o Oscar de filme para Rocky), Doze Homens e Uma Sentença e O Homem do Prego o posto de melhor exemplar de sua filmografia. Isso, para mim, claro, que não vi sua aclamada versão de Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O'Neill.
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Apesar desse histórico, o fator ambientação é coisa pouca em Antes Que o Diabo Saiba... O forte mesmo são as coisas básicas: texto, encenação e atores. Philip Seymour Hoffmann emplaca mais uma grande atuação, mas o melhor em cena é o veterano Albert Finney.
Ele mesmo, o Tom Jones de Tony Richardson, que também foi aquele advogado capacho de Erin Brockovich, e também o homem que parou um trem com um grito em O Fiel Camareiro, e o assustador psicopata de A Noite Tudo Encobre. E, importante, o homem por trás da transformação de David Webb em Jason Bourne.
O tempo passa, e o cara tá inteiraço. Vê-lo em cena em cenas como a que encerra Antes Que o Diabo Saiba... é muito mais intrigante do que ver Peter O'Toole interpretar a si mesmo aos 70 e poucos e implorar por um Oscar.
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