quinta-feira, outubro 09, 2008

Onde Navego Meu Barco ao Vento de Sete Paixões

Ando pensando muito em Bob Fosse: aquele vídeo de ontem é conseqüência de uma conversa numa comunidade do Orkut sobre ele, surgida a partir de Chicago - e da notícia que o diretor Rob Marshall vai dirigir Nine, versão do musical da Broadway inspirado no Fellini Oito e Meio. Peguei há poucomeu exemplar de Um Filme é Para Sempre para ler o artigo de Ruy Castro sobre Fosse, mas não demorei muito. Pulei umas duzentas páginas e caí em "Uma Fábula Amoral de Belle Époque", texto sobre Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de Oliveira.

Conheço pouco a história do cinema brasileiro, mas gosto muito de alguns filmes, como os básicos O Pagador de Promessas, Pixote, Deus e o Diabo na Terra do Sol e Noite Vazia. Mas, caso de amor mesmo, só com Todas as Mulheres do Mundo, o nosso Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, e, ouso dizer, melhor que o filme de Woody Allen. (E anterior, aliás. Domingos de Oliveira não pode ser o Woody Allen brasileiro porque ele já existia antes do diretor americano).



Diniz com 21 anos em 66

Enfim, nunca vi imagens nacionais mais belas do que as de Paulo José e Leila Diniz zanzando entre Copacabana e Ipanema num filme-sonho decalcado da nouvelle vague: p&b, câmera na mão, jumpcuts. A cara de Godard, mas com alma de Truffaut. Mas, ao contrário do francês, Domingos quebra a cara mas acredita no amor.

Ele já era ex-namorado de Leila Diniz quando a dirigiu, do mesmo jeito que Allen tinha perdido Diane Keaton em Annie Hall, mas se recusou a criar um final melancólico como o do filme americano. No fim de Todas as Mulheres do Mundo, casamento e festinha de criança sem um pingo de conservadorismo. Moderno é mostrar que as pessoas que se amam têm mesmo é que ficar juntas.



Toda mulher é Leila Diniz

Depois de uma longa parada com o cinema, Domingos voltou a filmar no fim dos anos 90. Perdi Amores, mas adoro todos os filmes que vieram em seguida: Separações, Feminices, e Carreiras. A estrela dos três é a nova mulher de Domingos, Priscila Rozembaum, uma mulher tão humana quanto sensacional - a prova que o diretor estava certo em apostar no final feliz de Todas as Mulheres do Mundo.

Confissão: no último Dia Internacional da Mulher eu estava escrevendo uma matéria sobre a data. No desespero para conseguir alguma aspa que prestasse, meio que arrumei coragem e liguei para a casa de Domingos. Foi tudo meio rápido, ele estava de saída. Quem atendeu foi Priscila, que disse achar os tempos atuais uma maravilha para as mulheres, que podem ser livres, e tal - isso em resposta à pergunta extremamente tola e estúpida que eu soltei, nervoso.




Priscila Rozembaum em Carreiras

Domingos tomou o telefone e desmentiu, disse que hoje em dia as mulheres não sabem aproveitar a liberdade e são todas neuróticas, e que as dos anos 60 eram as que sabiam viver com ousadia. Ele se despediu, e os dois continuaram resmungando, como se fosse num filme dele. O texto acabou ficando uma merda, uma matéria de comportamento muito mal amarrada que, infelizmente, ainda foi publicada em página inteira, para o meu constrangimento. Apesar disso, fiquei feliz por alguns dias por ter trocado algumas palavras com pessoas que admiro tanto. Melhor dizer isso aqui no blog, porque, ao vivo, não tenho coragem de tietar ninguém.

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