sábado, novembro 10, 2007

Ler é normal

Norman Mailer morreu. Há uma fase na faculdade de comunicação (lá ele?), infelizmente não tão comum, em que alguns estudantes tentam descobrir o jornalismo literário. De Mailer, não li os que "importam". Fiquei no A Luta e em Marilyn, o primeiro bem melhor do que o segundo, porque Mailer sabe administrar o ambiente de um evento com a importância política dessa luta Cassius Clay-George Foreman e aproveitar a infinidade de personagens interessantes envolvidos no mundo do boxe, o mais nobre dos esportes.



Marilyn tem bons dados, mas não inéditos. Mailer reescreve outros livros com um texto certamente apaixonado, mas decepcionante para uma biografia. Solução é encarar o livro como um ensaio (sobre masturbação, diria Paulo Francis), mas mesmo assim, as opiniões dele sobre cinema e estrelato não são as melhores.

Já que falei de Francis: (FSP, 09/09/89) (*) Mailer, Norman - Mailer tem o problema que Truman Capote diagnosticou bem. Falta de obra-prima. Nenhum dos seus livros evoca afeição permanente, ou marcou qualquer época. Bons eles são. O melhor continua sendo o romance realista dos anos 30, Os nus e os mortos, publicado em 1948... Mas Mailer não escreveu nada que se comparasse em impacto e memória a A sangue frio, de Capote, Complexo de Portnoy, de Roth, O planeta de mr. Sammler, de Bellow, ou até Myra Beckenridge, de Vidal.

De qualquer jeito, ele fundou a Village Voice.

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Gabi tá brocando, caderno especial na Folha deste sábado, só dela. Seu blog está em excelente fase, mostrando aquela visão bem particular dela sobre Sampa, com texto gracioso, leve e inteligente. Nesse último post, vale também visitar os comentários para ler a piada sensacional de Tiago A.

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Voltando a Mailer, esse mundo de grande reportagem e pauta livre tá me esgotando. Monografia é mais ou menos sobre isso na Piauí. Tomara que fique pronto (e bom) a tempo, até porque quero voltar a ler mais, e outras coisas. No meu aniversário, ganhei do casal 20 do jornalismo baiano, Vítor Pamplona e Emanuella Sombra, uma coletânea de críticas de Rubem Biáfora e o Groucho-Marxismo de Bob Black. Só deu pra ler o primeiro, ótimo.

Em casa, ganhei o catatau que é a biografia de Capote. Tem um texto muito bom de Sérgio Augusto que saiu no Estadão, acho que ano passado, contando (a partir dessa biografia) uma festa à fantasia que o autor deu em NY. Se alguém me ensinar a fazer posts-extensão, posto aqui. O livro tá intacto ainda.

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Últimas coisas que li de ficção: Cães Negros, de Ian McEwan, já completamente polido em 90 e poucos. O livro fica na cabeça, sempre com essas estruturas temporais não convencionais e incorporando sempre reflexões tristes, humanas e sofisticadas sobre criação artística. O Santiago de João Moreira Salles tem a ver, mas a metalinguagem sem contorcionismo e os pulos no tempo têm muito a ver, em cinema, com Fale Com Ela e Má Educação, dois Almodóvar especiais. Parece que o espanhol quer filmar a novela mais recente de McEwan, Na Praia.

Li também o instigante, mas definitivamente desfocado Minha Vida, Uma Farsa, de Peter Carey. Começa muito bem a história da editopra de uma revista de literatura e a investigação de uma fraude. Personagens fictícios ganham vida, gerando umas três camadas de criação, ao menos. Carey não consegue administrar tudo.

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Todos os parabéns a Roberto Nunes pela iniciativa de trazer cinco filmes de Cassavetes para Salvador, mas no Cinemark não tá rolando. A primeira semana, com Sombras, foi um desastre, e Faces também foi cancelado por falta de equipamento adequado. Não desisti.

Ontem, fui ver A Morte de um Bookmaker Chinês. Além de um erro de projeção (não por falta de equipamento, mas por desleixo), as legendas ficaram fora do quadro um bom tempo, até que apareceu um funcionário da limpeza, e alguém pediu pra avisar o projecionista.



Consertaram, mas além do climão gerado pela dificuldade de ver o filme direito, a platéia típica do Cinemark, arredia a desafios, se manisfestava permanentemente contra o ritmo do filme. O pior é que o pessoal não saía todo de vez. A cada cinco minutos, um casal abandonava a sessão, sempre a retalho, chamando atenção e quebrando o fluxo do filme.

Não sou especialmente fã da Sala de Arte - com aquele clima "charmoso", mas de salas medíocres -, mas acho que ali o clima seria mais favorável ao filme. Na Walter, já soube que há dificuldades burocráticas para a exibição da Mostra...

5 comentários:

Julio disse...

Saymon, preciso e precioso seu comentário sobre a Mostra Cassavetes. Escrevi ao Cineinsite (e só depois vi seu texto no próprio local descrevendo o problema) e ao Cinemark sobre a questão. Depois de me contorcer na cadeira de tanta irritação ao ver "Sombras" na semana passada projetado na janela errada, repeti a dose ontem com o "Chinese Bookie". As cabeças cortadas - mais para a Rainha de Copas que para Glauber - permanecem. Até tentei reclamar, mas o diretor de projeção do Cinemark não estava presente. E os "arredios a desafios" (lindo eufemismo para essa horda de bárbaros mal-educados que infesta os complexos de cinema daqui) continuam a perturbar a paz. O que prometia ser um dos acontecimentos cinematográficos mais importantes do ano, revela-se mais um dos já tradicionais desrespeitos para com o consumidor de cultura na Bahia. Lamentável!

Saymon Nascimento disse...

Julio,

O problema na exibição do Bookmaker é outro. Eles têm a lente certa, 1.85. O projecionista é que não está enquadrando direito. Aquela área pra cima que a gente vê quando o cara enquadra errado - às vezes, cortando a legenda - é excesso do negativo. Um milagre que não apareça microfone.

Mas o que aconteceu na sessão de sexta é ainda pior - cortaram oi último rolo, com os créditos. O filme pareceu abortado. Depoisn que eles perceberam que ninguém ia embora, colocaram os créditos.

Julio disse...

Saymon, estranho isso que vc diz, pois o problema me pareceu idêntico ao do Shadows. As cabeças permaneciam cortadinhas no topo para que as legendas pudessem aparecer embaixo. Na cena do assassinato que dá nome ao filme, por um erro de projeção as legendas desapareceram e as cabecinhas entraram em foco milagrosamente rsrsrsrsr Depois, infelizmente, eles se aperceberam do problema e "corrigiram-no". Imagino que o grupo Sala de Arte já tenha declinado da proposta de reexibir (adequadamente) os filmes, uma vez que a linguagem cassavetiana em nada se aproxime do padrão "wannabe cult" europeu que eles costumam exibir (a programação da recente mostra de cinema deles foi um horror, vc viu algum?). E vi que vc se referiu a entraves burocráticos para a exibição na Sala Walter (outro point charmoso-pero-medíocre local). Assim, só nos resta ter esperança de um dia vê-los em DVD... E pensar que um dia Adalgisa mandou dizer que a Bahia estava viva ainda lá...

Saymon Nascimento disse...

É isso, Júlio, dei uma pesquisada, mas o Bookmaker já foi filmado (em 76) no padrão flat (1.85), o mais comum até hoje. Sombras ainda é filmado igual a tv, quadrado, tipo E O Vento Levou.

Acho quer deve ter sido problema de projeção mesmo. Na minha sessão foi bem instável, mas a partir da segunda hora do filme, ficou certinho, cabeças e legendas no quadro.

Mas tvz tenha ocorrido um desastre e eles usaram lente 2.35 na sua sessão; depois dessas duas semanas, não duvido mais de nada.

Sobre lançamento em DVD, parece que a Europa tem os direitos, mas só a partir do meio do ano que vem.

Unknown disse...

Caros Saymon e Julio copiei os comentarios e enviei para o Gerente de Projeção do Cinemark, estou indo a Salvador na Proxima semana para acompanhar as sessões do Cine Cult, estou muito chateado com todos essses acontecimentos, mas é um preço que se paga ao tentar ousar, é lógico que tudo o que está ocorrendo nesse mnomento servirá de ensinamento para as proximas sessões.
Estamos pensando uma programação para o Cine Cult em Salvador que fuja dos filmes que infestam o chamado circuito de arte.
Estou a disposição:
Roberto Nunes
(79) 3223-1430
Msn: cinevideoeducacao@hotmail.com