sábado, fevereiro 21, 2009

His & Hers

Mickey Rourke e Kate Winslet deverão receber o Oscar nas categorias principais de atuação neste domingo. Consegui cópias dos filmes de última hora. Ladies first: Kate Winslet já teve trabalhos bem mais fortes que sua performance em O Leitor, mas é injusto afirmar que a premiação é apenas caso de conjunto da obra. Longe do seu tipo habitual de alma rebelde, Winslet faz um trabalho maduro e delicado como a ex-soldado nazista Hanna Schmitz.

Não há gritos, lágrimas e descabelamentos, mas a administração calma e consciente de um personagem difícil e desprezível, cuja principal característica é uma vagueza sentimental. Hanna é uma página em branco, descompromissada, seja relação aos crimes que cometeu ou à natureza de sua relação com um garoto adolescente.



Eu gosto bastante da atuação: seja por esse sensação permanente de que a personagem é vazia, tanto, mais uma vez, pelo despojamento da atriz, completamente à vontade em sua nudez e sem transformar isso num troféu de "coragem". Não é o auge de seu trabalho (Fogo Sagrado e Pecados Íntimos), mas ela continua precisa.

Ao contrário do filme, que, francamente, é de uma mediocridade assustadora, ainda mais com uma história que é puro dinamite. Daldry, depois de seu horrendo e pretensioso As Horas, joga mais um bom material na lata do lixo.

Sem ter visto duas das concorrentes ao prêmio (Melissa Leo e Anne Hathaway), eu votaria em Meryl Streep, perfeita em Dúvida. Claro que o personagem é muito bom, mas a falsa contenção da atriz é que dão sabor ao filme. O "line delivery" é genial, e cada frase é um rolo compressor: "Você apagou a lâmpada" é o novo "That's all". Dispensamos a histeria de Angelina Jolie, obrigado.

Entre os atores, Mickey Rourke deve levar o prêmio com toda justiça. Independentemente dos concorrentes (eu não vi Penn e Langella), sua atuação é um primor de emoção, sem sentimentalismos. O filme de Aronofsky surpreende, aliás.

Ninguém esperaria do insuportável "menino-gênio" que cometeu Réquiem Para um Sonho um filme tão generoso e despido de vaidades como esse. O diretor bebeu na fonte da lbrutalização do corpo como redenção, uma ideia bíblica lembrada por ele mesmo numa citação ao maravilhoso A Paixão de Cristo, de Mel Gibson.



Para mim, no entanto, o filme tem o bom gosto de algo de ter como norte coisas como Punhos de Campeão, de Robert Wise, ou Touro Indomável, de Martin Scorsese. Não que Aronofsky tenha alcançado esse nível de genialidade, mas, tendo baixado a bola, merece ter seu filme incluído na mesma linhagem, embora num patamar menor. Rourke, comandando tudo de coração aberto e completamente entregue, expondo as cicatrizes de sua vida louca, merece bastante o prêmio.

Sobre as categorias coadjuvantes, todo mundo sabe que Heath Ledger deve ganhar merecidamente seu prêmio póstumo pelo Coringa. Entre os outros concorrentes, não vi Downey, Jr. e Brolin. Hoffmann está indicado na categoria errada, já que seu papel é principal, e Michael Shannon é só um bobo da corte em Revolutionary Road. Para quem viu do que ele é capaz em Possuídos, de William Friedkin, é uma pena notar que esse reconhecimento vem por seu papel mais óbvio.

Eu vi as cinco atrizes coadjuvantes, e acho que o prêmio estaria bem entregue a Penélope Cruz ou a Marisa Tomei, e votaria nesta última pelo lindo e comovente papel em O Lutador. Como envelheceu bem Tomei: continua linda e adquiriu sensibilidade e humanidade tocantes. Lembra um pouco Elisabeth Shue em Despedida em Las Vegas, a melhor atuação num papel de prostituta de ... todos os tempos?

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