segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Suburbia malaise e muito mais

Fui pela primeira vez ao cinema desde que me mudei para Luanda, Angola, e peguei duas sessões no multiplex local, o Cineplace Angola - aliás, dos mesmos donos de vários cinemas de shopping de Salvador, como o Iguatemi, Barra e Itaigara. Pois bem: já que vínhamos falando de Kate Winslet, comecemos por Revolutionary Road, dirigido pelo marido da atriz, Sam Mendes. O filme marca um retorno do cineasta ao tema da angústia suburbana americana, visto em seu primeiro longa, Beleza Americana, inacreditavelmente vencedor de cinco Oscars - somente merecia ator (o grande, genial, Kevin Spacey) e fotografia (de Conrad L. Hall).

O casal Wheeler, principais personagens do filme novo, chegou ao mesmo ponto de crise dos Burnham de American Beauty: rotina confortável com casa & filhos versus atração por uma vida nova e cheia de descobertas; enfim, estabilidade contra mudança. Se no primeiro filme Spacey decidia fazer o que queria a qualquer custo, mesmo deixando a mulher para trás (e sendo punido de maneira grotesca pelo final conservador), em Revolutionary Road ainda há amor, e DiCaprio e Winslet têm que decidir juntos o que farão com sua insatisfação.




Uma grande pena, portanto, que mesmo com uma premissa forte, Mendes resolva todos esses conflitos em longas cenas de brigas de casal, marcadas pela gritaria e veias estufadas no pescoço de seus atores. Pior: não há nesses diálogos furiosos qualquer grau de elaboração acima do mero clichê (isso não é Quem tem Medo de Virginia Woolf?, ou Maridos e Esposas), mesmo que, dessa vez, estejamos livres da desonestidade humana de Beleza Americana. Os personagens existem, no melhor sentido, mesmo que o filme só os registre nesses momentos de explosão, sem os alicerces adequados para fazer com que tanta angústia pareça real.

Talvez por isso, mesmo atores experimentados como DiCaprio e Winslet não tenham muito o que fazer, exceto em cenas isoladas e mais calmas. Ela, especialmente, vai se regulando e baixando a bola aos poucos, até chegar muito bem às cenas finais. Ainda assim, não alcança a performance superlativa de Pecados Íntimos, onde interpretou personagem semelhante. Aliás, nem Revolutionary Road passa perto do filme de Todd Field, que tinha seus problemas no final, mas dominava muito bem a noção de cotidiano em seus pequenos infernos, sem reduzir tudo às quebras de pratos e ao chororô.

Sobre Mendes, acho que ele deve ser o melhor diretor de segunda unidade de todos os tempos. Faz cenas isoladas muito belas, mas seus filmes são todos Frankenstein, indefinidos ou repulsivos - no pior sentido, sem ambiguidades ou radicalismos. Gostar mesmo, só gosto de Estrada para Perdição, onde há tantas sequências notáveis (o desfecho na chuva, a morte da família de Hanks, um assassinato revelado no espelho, Jude Law fotografando um cadáver) que o filme acaba sobrevivendo, apesar do gosto de moralismo que fica na boca.

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Acho que há exageros por parte dos defensores e dos detratores de O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher. Quem é a favor do filme, como Merten (link na barra do lado ->), levanta a visão do filme sobre a vida, e a afirmação retirada de Bergman no final de Gritos e Sussurros de que a vida vale a pena, mesmo que seja por um segundo.

O próprio Merten, aliás, viu em entrevista que Fincher disse querer fazer um filme à Minnelli, e a memória vai direto para o maravilhoso e triste musical A Lenda dos Beijos Perdidos, em que Gene Kelly e Cyd Charisse não podem se amar porque estão separados 200 anos no tempo. Benjamin Button não pode amar sua Daisy porque vive ao contrário, ficando com o corpo mais jovem à medida que envelhece.




Em vários momentos, o filme consegue mesmo conjurar esse tipo de melancolia pessimista, mas a comparação com os clássicos só o enfraquece. Suas duas horas e meia parecem longas e intermináveis para uma ideia muito repetida e expressa com o máximo de potência em 90 minutos. Não é um filme conciso, e seu epicismo parece autoindulgente, fora de foco, sem sentido. O final, então, é de um horror absoluto, e mostra como uma boa ideia (a de Bergman) pode ser destruída por um tratamento imaturo. A vida vale mesmo a pena, mas não é preciso dizer isso como se o filme fosse anúncio do Itaú.

Por outro lado, o filme está bem longe de ser o pior prato já apresentado na refeição anual do Oscar. Tem seus momentos realmente muito bons (toda a participação de Tilda Swinton na Rússia), ao contrário de porcarias completas como Juno, Uma Mente Brilhante ou As Horas.

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Vi uns 30 minutos de Ocean's Eleven na tevê. Perfeito, sensacional, completamente embriagante com seu humor absurdo e ainda assim discreto.

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Também na tevê, vejo a reprise de O Cravo a Rosa na Globo Internacional. Nunca vi uma novela tão impecável e regular, com todas as cenas e atores não apenas corretos, mas muito inspirados. Poderia citar todos, mas fico com Drica de Moraes, a espirituosa vilã Marcela. Destaco também outro ator porque me era desconhecido quando vi a novela e parece não ter feito nada depois: Matheus Petinacci, o Doutor Teodoro. Por onde anda?

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O grande crítico Moniz Vianna morreu. Todo mundo relembra essa entrevista recente a Evaldo Mocarzel, mas vou linkar aqui também. Para interessados em cinema clássico, vale comprar a compilação recente de suas críticas feita por Ruy Castro. Moniz Vianna parou de escrever no início dos anos 70, quando John Ford morreu.

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