segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Oscar Bullshit

Well, ano passado o Oscar foi para Onde os Fracos Nâo Tem Vez, o melhor vencedor da categoria principal desde O Franco-Atirador, ainda nos anos 70. Em 2009, voltamos ao normal com a premiação da mediocridade. Quem Quer Ser Um Milionário?, de Danny Boyle, abiscoitou oito prêmios, incluindo direção, roteiro e fotografia.

A melhor coisa que se pode falar sobre o filme é que os créditos finais, à Bollywood, são sensacionais. De resto, temos uma obra (no sentido bíblico) claramente filha da puta e maleta, feita por um inglês muderninho que invade a ex-colônia com câmera na mão, muitos truques de luz e montagem acelerada. É o que se chama normalmente de "pop", rótulo que nesse caso implica a redução de complexidades e a valorização do efeito. Bom, Boyle fez aquela merdinha bem popular até hoje, Trainspotting, um filme que é cara dos anos 90, para pior. Se bem que ele também fez o ultra-cínico e impecável Cova Rasa, onde bem administrou sua própria superficialidade.



Tão comparando esse filme com Cidade de Deus por causa do visual (foto/edição), mas não sei se a comparação cabe, ao menos em dois aspectos. CdD era essencialmente local, e seu look mirava o interior de uma comunidade e seus conflitos intestinos, raramente se abrindo para o mundo exterior. Os travellings eram todos funcionais e labirínticos, a brilhante reconstituição de uma ratoeira.

Slumdog tem outras pretensões e traz todo um arsenal de cores globais, se aproveitando da babel indiana para garantir o timing de filme sintonizado com nosso tempo, tanto quanto as novelas de Glória Perez ou os longas de Alejandro González Iñarritu. Vez ou outra, até pela ambientação asiática, lembramos do genial Em Busca da Vida, de Jia Zhang-ke, mas ali o "timing" trazia uma preocupação humana que falta no filme de Boyle. Personagens são fantoches de fábula e lutam inocentemente por um final feliz, abordagem nada adequada às cenas de horror que vemos por duas horas. É um filme afirtivamente Pollyanna.

Daí a outra diferença em relação a Cidade de Deus, longa de narrativa aplicadíssima, envolvente, sem barrigas, completamente virtuoso na sua releitura dos filmes de máfia de Scorsese, como Os Bons Companheiros e Cassino. Slumdog é linear - o que não é um problema -, mas linear de maneira burra, com pessoas de papelão e uma mensagem tola. Tudo está escrito. "Maktub", diria Jade em O Clone. Minha cara de tédio só sumiu por causa dos espetaculares créditos finais, embalados pelo número musical Jai Ho, música que venceu o Oscar e é muito boa.

***

Sean Penn levou o segundo Oscar, hein? Não vi o filme, embora desconfie de Gus Van Sant em sua versão acadêmica, mostrada em Gênio Indomável. Prefiro o cara radical que fez um dos melhores filmes desta década, Gerry, além de Elefante e Paranoid Park.

EDIT: corrigi a info do número de Oscars do Slumdog e mexi em uma coisa ou outra...

5 comentários:

Andreia Santana disse...

Tenho sérios problemas com Van Sant, a heresia dele contra Psicose ainda não consegui digerir, nem apelando pra magnésia bisurada, mas levo fé em Sean Penn.

Sr. Boaventura disse...

Caro Saymon,

Só uma pequena correção, para lhe deixar ainda mais indignado com Slumdog, foram oito e não seis prêmios.

Abraços

Murilo disse...

Sean Penn está genial em Milk. Fotografia espetacular de Harris Savides, roteiro bem competente e uma montagem que impressiona, especialmente a mescla incrivelmente orgânica que Van Sant faz das imagens de arquivo de San Franciso com as do filme. Não é o melhor do cara, mas vale especialmente pelas atuações - James Franco não ser indicado, aliás, foi uma das injustiças.

Anônimo disse...

Saymon, que fúria suína é esta? Não é vc o Slumpig Millionaire de Luanda?

Saymon Nascimento disse...

Pelosta, Pelosta...

Estou emagrecendo, rapaz, e logo suas piadas perderão sentido. Já você está cada vez mais perto de virar um hipopótamo.