domingo, setembro 21, 2008

Bossa velha

O aniversário da Bossa Nova é ótimo, massa, mas não deveria justificar a existência de uma bomba como Os Desafinados, de Walter Lima Jr. Diego Damasceno acertou em cheio quando disse que os personagens das minisséries históricas da Globo parecem andar com plaquinhas explicativas sobre seus papéis. Essa dramaturgia de Telecurso 2000, infelizmente, desarma o que poderia ser um Nós Que Nos Amávamos Tanto brasileiro, memória carinhosa de juventude para um grupo de amigos.

O filme tem coração, e boa intenção, mas por que alguém tem que acordar e ver na tv o "I Have a Dream" de Martin Luther King? Por que os diálogos têm que ser na base do "Cadê seu passaporte?" / "Esqueci no hotel" / "Está preso, filho da puta"? Por que esse truque ridículo de novela dos oito nas cenas finais, que tenta nos convencer que Rodrigo Santoro é falante nativo de inglês e tem 18 anos?

Estou falando por cima - esse filme é tão recheado de pequenas cenas desastrosas que quase não há espaço para respiração. Para não detonar tudo: pela primeira vez em muito tempo, gostei de Selton Mello aqui. Continua com o humor rápido de tv, mas pegou leve, e o personagem é legal, sátira e homenagem ao cinema novo.

Mas se há uma justificativa para que esse filme exista, ela se chama Cláudia Abreu. Eu sempre soube que aquele rosto merecia os anos 60, que sua presença apaixonada poderia ter cheiro de cinema francês bom, velho. Cláudia Abreu é tão boa (e bela, nua, com seu corpo mignon) que consegue fazer o filme pegar no tranco toda vez que entra em cena, mesmo com a má dublagem nas canções de sua personagem, uma cantora.

Pena que não venha fazendo muito cinema. A última vez que a havia visto foi em O Caminho das Nuvens, em que faz uma mãe nordestina que canta (dessa vez, sim) para sustentar a família e bancar uma mudança para o Rio de Janeiro. Dois papéis totalmente opostos, feitos com igual força.

Enfim, segue o trailer de Os Desafinados. Vão avisados:

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