Dois deles o são deliberadamente: A Classe Operária Vai ao Paraíso e Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, ambos de Elio Petri e Palma de Ouro e Oscar de Filme Estrangeiro, respectivamente. Gosto bem mais do segundo, tétrica farsa sobre um policial que comete um assassinato e planta provas contra si mesmo, para testar sua insuspeitabilidade. O cara - Gian Maria Volonté - não é racional como parece seu plano. Ao contrário, é vítima do descontrole que tem o poder, e vejam a cara dele no final, quando sobre epígrafe de Kafka antes dos créditos.
Kennedy, pelas lentes de Drew
Um terceiro filme gravado na mesma mídia é o extraordinário documentário feito para a ABC em 60 e poucos, Crise, de Robert Drew. O diretor repete os lances de intimidade - câmera na mão, registro detalhista - para mostrar os bastidores de um dilema do presidente americano John F. Kennedy. Como convencer o governador do Alabama a aceitar os dois primeiros alunos negros na universidade do estado sem comprometer o apoio sulista às mudanças constitucionais que planejava para meses depois? O filme é um arraso (Nota do editor: Crise existe em DVD, e só baixei porque, na época, nenhuma locadora de Salvador o tinha nas prateleiras. Nunca baixo filmes disponíveis, vale a pena prestigiar as locadoras).
Na minha concepção original, os outros dois seriam coletaralmente politizados. O Chacal de Nahueltoro, de Miguel Littin, é um clássico chileno de 68 ou 69, baseado num caso real. Um homem comete um assassinato brutal de seis pessoas. Vai para a cadeia, onde aprende a ler, escrever, e a ter, finalmente, uma profissão. De tudo isso ele jamais vai tirar proveito, porque está condenado à morte, por fuzilamento.
O chacal recebe sua justiça
Essa espera da própria execução já rendeu grandes filmes para Bresson, Kieslowski, Dreyer e Larissa Shepitko, mas, depois do crime que presenciamos na primeira metade do filme, fica claro que O Chacal de Nahueltoro não é sobre isso. O que fica é o mal estar de um país captado em imagens secas e áridas, sem fetiche, que orgulhariam Glauber Rocha.
Para terminar, a ovelha negra é O Baile dos Bombeiros. Talvez por ter baixado no impulso - eu vi Os Amores de Uma Loura e quis logo assistir a outras coisas da fase checa de Milos Forman - fiquei com impressão errada. O tal baile dá um filme passado em apenas uma noite, em que os bombeiros fazem uma espécie de quermesse. O tom é cômico e doce, cheio da ternura vista em outras produções checas da época - Trens Estreitamente Vigiados e A Pequena Loja da Rua Principal.
André Dussolier e Sabine Azema, num Resnais magnífico
Depois desse DVD, comecei outro, cujo tema é mais tangível: só filmes de Alain Resnais, que alías, está sendo reexibido numa mostra em SP. Ganhei o catálogo de presente do amigo Cláudio Leal, e é um primor de edição. O primeiro filme dessa nova empreitada foi Mélo, de 86, uma das coisas mais belas que já vi. Lindo, maravilhoso, já num registro que me parece ser similar ao último longa dele, Medos Privados em Lugares Públicos. Resnais, que sempre preferiu trabalhar o cinema na sua fronteira com as outras artes, é ultra-teatral nessas duas obras que citei. O amor e os desencontros que provoca talvez seja o tema em comum.
Aquela montagem que conhecemos de Hiroshima, Meu Amor e O Ano Passado em Marienbad nem chega perto: Resnais privilegia o olhar fixo e a continuidade, mesmo que separada em grandes blocos - entra uma vinheta de cortina vermelha. Ainda assim, a recorrência de seu cinema de sonho continua - o truque sai dos travellings alucinantes e passa para o décor. Já o ritmo não é febril, e sim rigoroso. Mais sobre Resnais depois, até porque corro sério risco de falar besteira. Sua filmografia, para mim, está cheia de pontos cegos.
2 comentários:
Que programa usa para downloads de filmes? legendas?
O bom e velho emule. Legendas em baixo, no Titles e no Open Subtitles.
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