quarta-feira, setembro 10, 2008

Travessia

Bem chato o Roda Viva com Fernando Meirelles, que foi ao programa ontem à noite. No final, Lillian Witte Fibe faz graça e resumiu a conversa: "A gente tratou ele como se fosse campeão olímpico". De entrevistadores sem muito a dizer, somente se salvou, claro, Luiz Carlos Merten, e Rodrigo Salem, da SET, responsável pelo lado frívolo das perguntas ("Já voltou com Kátia Lund?". Boa).

Meirelles, simpático, não fez questão de render muito papo, mas ele é muito melhor que isso. Os blogs que ele fez durante as filmagens de O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira são muito bons. Pessoalmente, só conheço dele Cidade de Deus e Jardineiro...

Eu reconheço o incrível impacto do primeiro, mas não ache que sobre mais que isso. É um filme de força, que sabe apertar parafusos de maneira sensacional. A gente leva para casa a sensação de ser triturado, mas nada muito mais que isso. Do ponto de vista humano da coisa, Cidade dos Homens, de Paulo Morelli, é um filme muito superior... mas não é melhor cinema.



Mais impacto que humanidade

O Jardineiro Fiel
é bom, mas os atores são ainda melhores. Eu já sabia que Ralph Fiennes podia ser ótimo desde O Paciente Inglês, um filme muitíssimo subestimado pela crítica (ganhar 9 oscars não significa prestígio, até depõe contra), e ele ainda detona em Fim de Caso, Spider, e principalmente em Paixão Proibida.

Digressão. Acho que nunca falei desse filme aqui, mas ele tem um título comum e não merece ser confundido. Em 1996, Mike Winterbottom adaptou Judas, O Obscuro - meu livro preferido - e tascou esse título. O filme é bom, Kate Winslet é fenomenal. Ano passado, um tal de Silk, com Keira Knightley, recebeu o mesmo nome aqui no Brasil.

Não vi esse último, mas acredito que o melhor "Paixão Proibida" dos três seja mesmo o com Ralph, dirigido pela irmã dele, Martha. É lento e gelado, dolorosamente romântico, como se aquela cena do livro The Age of Innocence, de Edith Wharton, em que as lágrimas congelam nas pálpebras de Newland Archer, se alongasse para sempre. Filme lindíssimo, visualmente muito sofisticado, e narrado a conta-gotas. (Adaptação de Eugene Onegin, de Pushkin)



Ralph Fiennes, no topo da carreira

Fiennes está maravilhoso aí, mais do que em O Jardineiro Fiel, onde é apenas "excelente". O show ali é de Rachel Weisz, linda, perfeita, e ainda mais em My Blueberry Nights, que decanta melhor depois que passamos a não exigir de Wong Kar-Wai seja sempre genial. O filme é descompromissado e prazeroso, e basta.

Aproveito a digressão para abandonar Meirelles de vez e ficar em Wong Kar-wai. Caetano cantando Currucucu Paloma virou meio que símbolo de Fale Com Ela, de Almodóvar, mas já estava gloriosamente implantada na cena final de Felizes Juntos. Filmaço, e agora tem DVD, nas melhores casas so ramo. Não sei se quero rever. Vi no cinema, saí tonto. Talvez seja o melhor WKW. Mas, Saymon, e Amor à Flor da Pele? Pois é, mas a dúvida ainda existe.

>>> Tenho sido perseguido por essa versão de Travessia, por Bjork, desde que ouvi pela primeira vez, esses dias. Nunca dei muita bola para Clube da Esquina, essas coisas - embora respeite -, mas a remixagem islandesa, com letra em português, é de tirar o fôlego. Nos seus melhores momentos, Bjork (de quem também não sou fã) consegue dar uma elevação espiritual, bíblica, às canções que interpreta. Não à toa, o dueto com Peter Stormare (dublado pro Thom Yorke) em Dançando no Escuro fica gravado para sempre na retina, como uma imagem a ser mostrada a Deus, Ele mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uau... post abstrato. Ótimo :)

Vi BLUEBERRY NIGHTS ontem. Lindo.

Happy Together tá na lista para comprar. A Lume faz um favorzão ao cinéfilo a cada dia.

Vão lançar VÁ E VEJA e cinema marginal brasileiro. Fantástico né?