domingo, outubro 26, 2008

Sinfonia do pânico

Listas, listas. Clint Eastwood mostra à EW as 12 influências-chave na carreira e na vida. Começa com James Cagney em Fúria Sanguinária: The Clint conta que a cena do hot dog de Perseguidor Implacável veio de Cagney executando o capanga com uma coxa de galinha na mão. Grande filme, o do Raoul Walsh. Não tinha ouvido da própria boca do Eastwood, mas agora tenho certeza de que o grito de Sean Penn em Sobre Meninos e Lobos veio do berro sensacional de Cagney, quando fica sabendo da morte da mãe.



Brutalidade

Aliás, essa relação complicada de mãe & filho bandidos é apenas uma das muitas complexidades de Fúria Sanguinária, um filme que até hoje impressiona pela violência e intensidade, e pelo fato de que absolutamente nenhum personagem presta. Para isso, ver a participação da doce Virginia Mayo, aqui ultra-escorregadia como a amante de Cagney.

***

Nessa lista, há link para uma compilação dos 20 filmes mais assustadores da história. Tirando as escoilhas das quais é impossível fugir (O Bebê de Rosemary, O Exorcista, A Profecia), a lista é decepcionante pelo fator açúcar-no-champanhe. Predomina o suspense in-your-face, com monstros, aberrações, e pouca sugestão.

Meu estômago, ao contrário, é muito mais vulnerável a filmes sutis, de horror implícito. Esse ano tivemos um excelente exemplar do gênero, o espanhol O Orfanato, de J.A. Bayona, com sua atualização tecnológica do terror gótico inglês - melhorando a já bem-sucedida tentativa do também espanhol Alejandro Amenabar e seu Os Outros, com Nicole Kidman.



Deborah Kerr e a vitória da Sutileza em Os Inocentes

A fonte cinematográfica dos dois, claro, é Os Inocentes, filme que Jack Clayton fez após o seu também extraordinário Almas em Leilão, que nada tem de sobrenatural, aliás. Os Inocentes é adaptação de A Volta do Parafuso, de Henry James, novella para se ler de joelhos e luz bem acesa. Mesmo com todo o seu brilhantismo, prefiro o James de catataus impenetráveis como A Taça de Ouro e As Asas da Pomba, mas essa é outra história.

Não conheço nada de literatura de horror - jamais lerei Stephen King, nem sob tortura -, mas já li uma ou outra coisa muito assustadora. Mesmo com meu parco conhecimento, acho que nada supera os capítulos transilvânicos do Drácula de Bram Stoker, com a exceção, talvez, do diário do capitão do barco no mesmo livro.

Das adaptações do Drácula, reconheço o maravilhamento de Nosferatu, mas para mim, o maior filme de Murnau não é esse, nem Aurora, Tartufo, A Última Gargalhada ou Fausto, e sim Tabu, feito com Robert Flaherty - que nada tem de assustador, a não ser pelo poder das imagens. Não morro de amores pelo Nosferatu de Herzog, apesar de Isabelle Adjani, e não conheço as versões com Bela Lugosi e Christopher Lee.



Drácula, o triunfo de Coppola

Em compensação, a injustiçada adaptação de Francis Ford Coppola é absolutamente magnífica, mesmo com Keanu Reeves e Winona Ryder nos papéis de Jonathan e Mina Harker. Coppola "recebe" Visconti novamente e tira da cartola uma ópera inebriante e profana, musical até na montagem e na fotografia, febris. É um filme extremamente excessivo e apaixonado, e por mais distantes que sejam os temas, é claramente obra do mesmo homem que concebeu e realizou Apocalypse Now. Cada qual em são canto, são ambos sinfonias do pânico.

Um comentário:

Anônimo disse...

não savem o q é ser vampiro. eu todas as noites faço um pequeno corte no meu braco e bebo o meu propio sangue...

a sede fala sempre mais alto...