quarta-feira, setembro 03, 2008

Fraude

Mesmo nos seus melhores momentos, Sean Penn dificilmente foi um ator sutil. Eu gosto da idéia de que ele é o Marlon Brando da nossa geração (anos 90). É extraordinário, mas é (quase) sempre maior que a vida, para usar a expressão americana.

Embora seus personagens sempre existam com força em uma dimensão interior (a gente olha na cara dele e vê os conflitos, mesmo em silêncio), é difícil não achar que, muitas vezes, o que já está nos olhos dele é salientado por um gesto, um sotaque estranho, um grito no auge da cena. Não estou falando mal dele, ou de Brando. Só acho que eles talvez sejam bons atores demais, diferentemente de um Paul Newman, que é magnífico sem nenhuma nota desnecessária.

Isso tudo é para dizer que entendo muito bem por Penn não cola como diretor. Sem a intensidade inata que consegue projetar apenas pela presença, em cena, só resta a sobra, o excesso. Nos seus quatro filmes até hoje atrás das câmeras, o cara tenta desesperadamente se estabelecer como um grande maverick, outsider do oeste como Sam Peckinpah ou Clint Eastwood.



Penn, dirigindo Emile Hirsch

Quando o vejo reduzir essa idéia a um lobo sangrando no início de Unidos Pelo Sangue, ou à dança dos cavalos em Na Natureza Selvagem, só tenho uma idéia: ele não sabe onde parar. Falta precisão ao cinema de Sean Penn. Unidos..., a estréia na direção, sofre por sua ingenuidade imagética. Ele faz desmoronar sobre a platéia clichês de cenas pesadas e tristes: um assassino inquieto que se manda sozinho pela estrada, o apelativo suicídio de Charles Bronson, etc. Para cada momento potencialmente forte desses, um toque na guitarra, pretensamente lancinante.

Acho que já falei disso aqui, mas Acerto Final, com jack Nicholson, é um dos piores filmes que já vi. O coitado do Nicholson é um pai desesperado com a saída do matador de seu filho da cadeia. Ele vai procurar por vingança. Em rigorosamente todos os diálogos há um intervalo de cinco segundos entre cada fala. A vontade de soar humano, incorporando o silêncio da vida real, acaba engessando o filme numa dramaturgia indie extremamente pobre - diálogos anulam quela quer verdade, mesmo e (principalmente porque) que se possa contar de um a cinco entre as frases.

Eu gosto de A Promessa, acho ok, e Penn tem prestígio suficiente para reunir um elenco que vai de Vanessa Redgrave a Helen Mirren em pequenas pontas, sem falar com Nicholson, dessa vez maravilhoso de verdade. O filme é lerdo de uma maneira inconvincente. Sem contar que Bruno Dumont fez coisa muito parecida e incrivelmente melhor com A Humanidade, um dos filmes da década de 90.

E aí chegamos a Na Natureza Selvagem, que reestreou essa semana na Sala de Arte e já saiu em DVD. Bom..., que lástima.

3 comentários:

Anônimo disse...

E o episódio de PENN em 11/9?

Saymon Nascimento disse...

Boa, esse eu não vi! Não que espere muita coisa do projeto, ainda mais com Alejandro Iñarritu no meio.

Anônimo disse...

O do Iñaritu é rídiculo mesmo. Na verdade nem entendo o que ele quis dizer. Mas alguns são bons, o do Sean Penn realmente muito bom. Mas sou um pouco suspeito, gostei de A PROMESSA. Mas vá e veja, tem o video do curta no meu blog.