sábado, março 31, 2007

Em algum lugar, eu

Título do post tem a ver com um filme bem ruim e chato que vi de graça na Walter - há três anos, acho. Era uma falação bem intelectual-francesa que não fazia sentido. Travelling vai, travelling vem, um cara levanta exaltado e berra: "Que merda! Cinema é Marcel Carné!". Se fosse hoje, aplaudiria na hora e também deixaria a sala.

Carné é bem difícil de achar, mas ao menos o filme que deixou o diretor na história está disponível em DVD, em dois discos: O Boulevard do Crime. São três horas, divididos em duas épocas. À época do lançamento, a França estava ocupada e havia a proibição para qualquer filme com mais de 90 minutos. Carné rodou no braço, e adotou a tática Kill Bill - parte 1 e parte 2. O corte entre os dois volumes é marcado por uma passagem de tempo na história.



O Boulevard do Crime já foi / talvez ainda seja considerado o maior filme francês de todos os tempos. À primeira vista parece datado, velho, empoeirado, mas não é nada disso. Melhor, é datado sim, feito em moldes pré Cidadão Kane, mas quem se importa? Poucas coisas conseguem ser tão belas.

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O título. Ele veio porque queria só encaminhar dois textos que escrevi. Para a Nacocó, um mais velho, sobre o número de cinemas em Salvador, que deve aumentar nos próximos anos. Não está uma Brastemp, mas deu muito trabalho, principalmente pela indisponibilidade das fontes. O segundo é dessa semana, para o Coisa de Cinema, sobre o muito simpático novo filme de Woody Allen, Scoop. Para quem leu aquela matéria do Estadão em que o diretor compara Scarlett Johansson a Marilyn Monroe, eu escrevi o texto um dia antes com essa mesma observação!



Traduzindo o título então: em outros lugares, o mesmo escriba do blog.

O filme em questão, aliás, é Em Algum Lugar, Alguém, de Yannick Bellon. Já que falei numa diretora francesa, fica a recomendação de Cléo das 5 às 7, de Agnes Varda, obra-prima disponível em DVD.

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Ouço sem parar a versão de Toni Platão para "Impossível Acreditar Que Perdi Você", clássico da Jovem Guarda. Muito bom.

sexta-feira, março 23, 2007

Sensibilidade e Bom Senso

Por acaso, acabei de achar em uma comunidade do Orkut uma transcrição portuguesa de Abadia de Northanger, romance de Jane Austen que nunca li por falta de acesso. A autora é genial – com tramas que não ficariam mal num livro de banca, ela destila imenso senso de percepção, traduzido em cada palavra. Cada escolha é precisa, não há equívoco. Resultado: a viagem rumo ao sempre inevitável final feliz é feita com prazer absoluto.

Dos quatro livros de Austen que li, meu preferido – e de quase todo mundo – é Orgulho e Preconceito. Tem boa adaptação pro cinema, embora não muito fiel. Keira Knightley e Matthew MacFayden parecem mais saídos de um romance bromteniano, só que sem o melodrama. O texto de Austen pródigo em observações em profundidade dos personagens vira uma excelente comédia chá com biscoito. É bom, mas Austen fazia muito mais. Dominava sua arte (a escrita) com uma precisão que faz o cineasta Joe Wright, empenhado, firme, parecer meio amador. Não é – somente a comparação é injusta.



Razão e Sensibilidade – ou Sensibilidade e Bom Senso, excelente título de Portugal – passou às telas com fidelidade rigorosa. Não exatamente por isso, é um dos melhores filmes da década de 90, dirigido pelo mesmo Ang Lee de maravilhas como Hulk, Tempestade de Gelo e O Segredo de Brokeback Mountain. De Emma gosto menos, ou eu vi muito Clueless na Sessão da Tarde para chegar a me surpreender com a narrativa. Ou talvez já conhecesse todas as qualidades que Austen apresenta, sem muita novidade.

Muito subestimado é Persuasão, que também parte de um desencontro amoroso, mas tece uma relação familiar cínica demais para o que nos acostumamos a ler na autora. Mais uma vez, as irmãs. Agora não são amigas (uma emocional e outra sábia, como em Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade), mas compartilham uma convivência levemente perversa. Uma é linda; a outra, inteligente, mas passiva. E há o pai, incrível, irônico, sutilmente brutal e venenoso, futilmente obcecado pela beleza – que a heroína não tem.

Vamos para Abadia de Northanger, então. Vai furar a minha fila de leitura, que conta com, entre outros, o incensado Reparação, de Ian McEwan. A Inglaterra muda, mas as referências, não. A epígrafe do livre é um trecho da Abadia... Reparação chega esse ano aos cinemas, nas mãos do mesmo Joe Wright de Orgulho e Preconceito.
Leia mais: João Pereira Coutinho na Folha: "Como Jane Austen pode mudar sua vida"

quinta-feira, março 15, 2007

Grandes mestres

Poucos dias depois da entrega do Oscar, o assunto já virou embrulho de peixe, e a única coisa que fica é a desagradável pecha a algum vencedor – para sempre, ilegítimo proprietário de um troféu que não prima pela qualidade de suas escolhas. Este ano, a carapuça parece ter caído infelizmente para Os Infiltrados, de Martin Scorsese, que levou montagem, roteiro, direção e filme. Batata – virou o prêmio de consolação para o diretor, que nunca venceu com as obras-primas pelas quais foi anteriormente indicado: Touro Indomável, A Última Tentação de Cristo & Cia.

Esta última empreitada do realizador pode não ficar no mesmo nível de trabalhos passados, mas é bom desconfiar de outro motivo para essa reação negativa: Clint Eastwood. O ex-astro de western está vivendo a segunda melhor fase de sua carreira, e, com o já clássico Menina de Ouro, bateu no Oscar o suntuoso O Aviador, tentativa anterior de Scorsese de levar a estatueta para casa.


Quem via Menina de Ouro como apenas um melodrama descarado e vulgar tomou a defesa de Scorsese. Uma parte dos amantes do filme de Eastwood passou a invocar a decadência de Scorsese como argumento contra Os Infiltrados antes mesmo de seu lançamento, e mesmo antes de tê-lo visto.

Motivo: os dois diretores voltariam a se enfrentar no Oscar deste ano, já que Clint puxou da última hora Cartas de Iwo Jima da manga. O filme é mesmo magnífico, mas a discussão é frívola. Na semana do oba oba, jornalistas escreveram automaticamente sobre como Os Infiltrados é um filme "menor" e pronto, sem parar pra vê-lo além da carreira do diretor. Também engoliram com facilidade o muito discutível mérito do filme de Eastwood, a humanização do "outro lado". Acho que nem é por aí.

Pessoalmente, acho que Cartas de Iwo Jima excelente, mas a recepção favorável parece já automática, uma vez que Eastwood parece ter preparado terreno não somente com suas duas obras anteriores (descontando aqui A Conquista da Honra – que vê a mesma batalha de Cartas... do lado americano). Ajuda também ter a face de 70 e tantos anos esculpida na pedra, ter feito uma improvável transição de ator cult para diretor artesanal e ostentar aquele ar de outsider discreto-desconfiado-cético tão típico de diretor queridos, quase sempre associados ao faroeste e o filme de ação. Clint seria um último John Huston, Samuel Fuller, Howard Hawks.

Maravilhosamente, Eastwood tem impresso em cada fotograma de seus filmes essa discrição para filmar a sensação estranha e incontornável de envelhecer e ver o passado projetado na sua frente, no que você é, no que fez. É um cinema sem muita alternativa, árido, mínimo, limpo.

Em Cartas de Iwo Jima, dá para lembrar de um episódio na vida de Ingmar Bergman, quando ficou extremamente perturbado com a opinião de um crítico sobre Sonata de Outono. O jornalista escreveu algo no estilo “O filme é Bergman sendo Bergman”, o que correspondia à opinião de que não havia nada especialmente brilhante no filme a não ser o que o diretor sempre colocava em suas obras – visão desolada do mundo e das relações humanas, dramaturgia à prova de fogo, direção de atores soberba. Com isso, Bergman não podia mais errar, mas também poderia cair num piloto automático.

Não é o que acontece com Eastwood desta vez. Ele se propôs a um grande desafio técnico, logístico, humano e político, mas o resultado final me soaria quase que como uma falha, não fosse a presença dessa nobre assinatura Clint, que já garante nível acima da maior parte dos filmes, da mesma maneira que Sonata de Outono era um grande filme.

Curiosamente, a hora em que o diretor parece atirar no próprio pé tem muito a ver com um aspecto muito bem-sucedido em Os Infiltrados. Em ambos os longas, está o interesse de enxergar os dois lados de uma disputa, seja da jogo polícia e ladrão em Boston, ou das trincheiras da segunda Guerra Mundial, mesmo que Eastwood faz isso em filmes separados.

Scorsese abre vantagem justamente pela capacidade de dominar completamente essa intenção. Leonardo DiCaprio e Matt Damon estão fingem estar em posições opostas às reais, e são confrontados não somente numa batalha espetacularmente narrada, mas num jogo de nervos insuportável. Difícil se render a essa pecha de fake que puseram no filme, quando, mesmo trabalhando num filme de ação de alto orçamento, consegue contrabandear (para usar expressão do próprio Scorsese) a confusão emocional que deixa seus personagens sempre à beira da explosão, de New York New York a Cabo do Medo. Esse perigo de explosão, aliás, dificulta qualquer relacionamento duradouro.

Resultado, temos um filme absolutamente balanceado que não somente passa longe de qualquer maniqueísmo, mas deixa no público a perturbadora sensação de não ter muito com o que se pegar. A desconfiança generalizada pode ter vindo originalmente de um filme de Hong Kong (Os Infiltrados é remake), mas casa perfeitamente com a sensação de insegurança coletiva americana. Não se trata de conservadorismo, mas de pânico – como se fôssemos Teresa Wright naquele close-up genial de Hitchcock em A Sombra de Uma Dúvida, descobrindo um monstro em um parente próximo.

Já Eastwood parte para “humanizar o lado japonês”, frase que vai piada tanto pela imprecisão quanto pela repetição por parte da crítica. Que o diretor tenha, num impulso, filmar o ponto de vista do inimigo parece uma decisão interessante, movida pela vontade de não se contentar com explicações rasas, mas ainda assim nada original. A Grande Ilusão, de Jean Renoir, no final dos anos 30, já havia tirado de letra. Gente é gente dos dois lados da trincheira. Qualquer diretor que valha a pena discutir aprendeu a lição.

Pois bem, vai Eastwood filmar os soldados sitiados na ilha de Iwo Jima, com a guerra perdida diante do poder de fogo americano. Humanos todos são, com dor de barriga, saudade de casa e vontade de fugir, mas onde estão as diferenças, o que é particular daquela cultura? Eastwood bem sabe que, praticamente no meio do século XX, o Japão ainda carrega peculiaridades que foram abandonadas séculos antes pelo Ocidente, como o direito divino ao poder. A queda do imperador Hiroíto ao fim da segunda guerra provocou desespero, suicídio.

Uma parte dos soldados da ilha tem comportamento parecido, ainda feudal, baseado na derrota honrosa e na impossibilidade de rendição. Estão opostos ao comandante Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe), homem educado e culto que viveu nos Estados Unidos, de visão mais equilibrada. Watanabe nem precisa fazer muito esforço para parecer um Gregory Peck japonês. Daí o equívoco de Eastwood: os soldados mais “radicais” são estupidamente transformados em vilões, fala 100% impostada, olhos firmes e esbugalhados, estilo psicopata. Não entendem a razão do terno comandante.

Filmando o outro lado, a generosidade de Eastwood passa como falácia: ele está com os dois pés bem firmes em seu ponto de vista americano. O diretor parece não entender a natureza mundana das atitudes dos soldados “honrados”. A humanidade só está reservada àqueles que parecem mais modernizados, o estilo de vida feudal parece-lhe incompatível. Pouco razoável para um diretor deste calibre artístico. Talvez, por influência de Sergio Leone, tenha visto demais os magníficos filmes de Akira Kurosawa e se esqueceu de que sua vocação hierática tinha mais a ver com influências ocidentais, como Shakespeare e John Ford.

Ainda assim, sorte de Eastwood que talento seja item fundamental de sua assinatura. Numa abstração da localidade ou da referência política e geográfica do filme, fica a tristeza extrema de uma situação que lhe é muito cara. Mais uma vez, o beco sem saída, mas com fim lento, sofrido, e o tipo de laço estabelecido entre as pessoas nestas situações-limite. É no Japão, mas poderia ser no Álamo, batalha tantas vezes filmada, ou em Canudos. No seu colorido quase preto-e-branco, Cartas de Iwo Jima é mesmo um grande filme. Que suas qualidades não sejam apreciadas às expensas das do filme de Scorsese.

domingo, março 11, 2007

Exilados

Hoje (ontem, na verdade), acabei de ler a segunda parte do Nostromo, de Joseph Conrad. Fiquei um bom tempo à procura de uma cópia, esgotada já já algum tempo. Parece que é sempre assim: quando a gente consegue (cortesia da biblioteca de meu antigo chefe, em amigo oculto de fim de ano!), lançam nova edição. Ainda assim, prefiro a minha, mais sóbria, com páginas levemente amareladas que dão um toque de pergaminho ou mapas marítimos que tem tudo a ver com o autor. (Agora que a Ediouro comprou a Nova Fronteira, tomara que lancem um novo Os Filmes de Minha Vida, de Truffaut, minha prioridade rara neste momento. Quem vir em sebo, me avise).

Por que tinha tanto vontade de ler o Nostromo? Para começar, uma razão cinematográfica. David Lean morreu tentando levantar dinheiro para adaptá-lo, mas não conseguiu financiamento e uma seguradora que aceitasse o risco de ter um diretor octogenário no comando de uma produção complicada e de grande dimensão. Pelas 250 densas páginas que já li, seria material perfeito para o cineasta.

Joseph Conrad

Lean dirigiu meu filme preferido de todos os tempos, Lawrence da Arábia, exaustivo épico de quatro horas sobre a trajetória do tenente inglês (já ouvi dizer que ele nasceu no Brasil, em Botucatu, SP; o Wikipedia desmente) T.E. Lawrence tentando unir os povos árabes durante a Primeira Guerra Mundial. Em outros de seus grandes filmes, o “ser estrangeiro” é fundamental: A Ponte do Rio Kwai, sobre soldados ingleses sob domínio japonês na antiga Birmânia, durante a II Guerra; Passagem Para A Índia, magistral adaptação de E.M. Forster sobre o comportamento da comunidade inglesa em contato com os mistérios do país asiático; Summertime, pequena crônica de uma secretária americana solteirona, aprendendo o que é paixão, amor e sexo em Veneza.

Mesmo em Desencanto, sufocadamente narrado em Londres, após o desenlace de um adultério, o médico decide trabalhar na África. A mesma atitude do Lord Jim, de Conrad, a quem a lembrança do fracasso impede o fortalecimento de raízes em qualquer lugar. Pela afinidade de tema, Lean faria um grande Nostromo. Tanto ele quanto Conrad têm imenso interesse na sensação de exílio.

O que nos leva ao motivo número 2: a vida do próprio Conrad. Mais detalhes no Wikipedia, mas sempre me atraiu saber o que alguém com sua trajetória escreveria. Nascido na Ucrânia de família polonesa, entrou para a marinha britânica e foi ver o mundo, da Venezuela até a Indonésia. Lord Jim, é um grande livro que traz esse ponto de vista sobre a Ásia; Nostromo seria um produto das vivências na América Latina.



David Lean

Isso tudo me faz pensar que na verdade, há uma única razão geral para que esteja atraído pelo livro. Trata-se de uma afinidade e vontade que eu mesmo tenho de ler/ver tudo sobre esse tema, o exílio. Meu escritor favorito é Henry James, o mestre americano que foi viver na Europa, mas não deixou de ser apátrido – aqui, acolá, nunca à vontade. James escreve sobre “incidentes internacionais”, histórias de desencontro de mentalidades que se refletem discreta e poderosamente em sentimentos como amor, paixão e arrependimento.

Também me interessei imediatamente por Graham Greene pela sua história: inglês, espião, jornalista de guerra, autor de dois livros que gosto muito, O Americano Tranqüilo e Fim de Caso, e de outros que quero muito ler. Hemingway também, Camus. E Truman Capote, super-elogiado por A Sangue Frio, mas autor cujas obras-primas estão em histórias curtas, como os relatos de viagem de “ A Cor Local”, disponíveis na compilação Os Cães Ladram. Qualquer dia desses, digito o capítulo sobre Tânger.

No cinema, nem se fala- dos já citados filmes de Lean a várias obras de Howard Hawks e John Huston. Paraíso Infernal, Uma Aventura na Martinica (adaptado de Hemingway), de Hawks; Uma Aventura Na África, O Diabo Ri Por Último (roteiro de Capote), de Huston. Os três últimos, aliás, com Humphrey Bogart no papel principal. Deve ser isso - ser exilado exige curtimento da carne, mente aguçada, esperteza, o tipo de coisa que compõe personagens muito interessantes, anti-heróis. Claro, colocar Casablanca nesta lista Bogart. E não esquecer de O Salário do Medo, de Henri Georges Clouzot, único filme da história a passar em Berlim e Cannes e levar para casa tanto o Urso quanto a Palma de Ouro. (Tudo isso disponível em DVD).

John Huston: impressão minha ou dá para ver a marca de exilado na cara desses três?

(Claro, vários desses caras são jornalistas ou seus livros/filmes tem protagonistas que exercem a profissão. Resquícios de uma visão meio romantizada sobre o jornalismo, o "ser correspondente", expertise que deve exigir muito jogo de cintura e poder de observação. Conte aí Euclides da Cunha e seu fundamental Os Sertões - quem me apresentar livro brasileiro melhor ganha eterna consideração)

Enfim, depois desse name-dropping, todos ficam sabendo: este é um tema que me atrai. O Nostromo? Até agora, maravilhoso, mas livre que exige atenção extrema. Não é algo que se leia em busca de aventura, e sim de poder de observação, de escrita em entrelinha. Muito pouco “narrativo”, por sinal. Demora e muito para que ele saia de um panorama geral (geográfico, até) sem fixar tempo nem personagens como nossos cicerones em Sulaco, a cidade fictícia que é centro do livro. Leio devagar, às vezes a conta-gotas, mas com grande prazer.

quarta-feira, março 07, 2007

Cinema cantado

Vi agora há pouco Dreamgirls, de Bill Condon. Ele dirigiu Kinsey, escreveu Chicago, que é bom. Dreamgirls, não. Cansa. Como um DVD Mariah Carey encontra Whitney Houston, mas com música provavelmente melhor. Galera canta muito, especialmente Jennifer Hudson, mas esse não é exatamente o tipo de música que que me prende por duas horas e dez minutos. Para quem gosta, sugiro comprar a trilha. Filme é número musical atrás do outro, estilo coletânea de clipes (em cima do palco, quase sempre), e que não tem nem a coragem de ser todo cantado. Tudo que é falado aqui é desnecessário, não somente pela bobeira da trama, mas porque, em várias situações, músicas substituem diálogos.

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Musical todo cantado é Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy. Venceu a Palma de Ouro em Cannes, quando o presidente do júri foi Fritz Lang (Metropolis, M - O Vampiro de Dusseldorf), batendo Deus e o Diabo na Terra do Sol, merecidamente. Música sem parar, colorido intenso, uma paixão quase água-com-açúcar. Que filme venenoso. Num golpe genial de roteiro, o amor é interrompido pela guerra. Fica tudo tão imensamente triste. Melancólico. O cara volta da guerra, mas não espere final feliz. E a sinfonia não pára.

segunda-feira, março 05, 2007