quinta-feira, setembro 19, 2013

Breaking Bad

Em 39 horas de voo mais uma madrugada perdida, consegui, em duas semanas, ver as três primeiras temporadas de Breaking Bad. Sim, é empolgante, viciante e eletrizante, uma série de tv muito boa. Só não a reinvenção da roda nem exemplo para a velha comparação desinformada de "como o cinema anda melhor que a tv". Claro, esse tipo de besteira é um problema dos comentaristas, e não da própria série, o que não significa que BB não tenha a sua cota de deslizes.

Pra começar, dentre os produtos televisivos recentes de destaque, me parece de longe o mais conservador em termos de estrutura, um verdadeiro folhetim, cheio de finais bombásticos, reviravoltas, situações-limite nem sempre muito prováveis e uma vontade apaixonada de te tirar o coração pela boca. A melhor definição pra isso é "rocambolesco".

O roteiro é rei, e absolutamente todos os detalhes presentes servem para levar a história para frente, ou pra trás, enfim, pra servir o plot, o que é feito com muita habilidade, até que algumas coincidências começam a incomodar. Um personagem que aparece furtivamente em um episódio não pode ser só um personagem qualquer - tem que voltar depois pra engatilhar outra trama, com mais cliffhangers, emoções de última hora, etc. Não há espaço para a banalidade. Tudo é tão eletrizante que às vezes cansa, no mau sentido.

De qualquer jeito, esses excessos de amarras fazem sentido dentro da filosofia kármica meio barata da série, que põe o caos em questão e que os resultados dos seus crimes podem cair de volta na sua cabeça, vindo dos céus.

O resultado, tão aclamado a ponto de bater um risível recorde no Guinness de série mais admirada (!), me parece oscilar entre o impressionante e o frouxo, como se estivéssemos diante de um pastiche muito bom de uma comédia de erros dos irmãos Coen. Pra quem crê em uma verdadeira inovação trazida pela série, Fargo manda lembranças, além de todo um cinema cínico de twists escrotos dos anos 90. Aliás, um dos episódios que eu vi era dirigido por John Dahl (O Poder da Sedução, lembra?) e dei uma boa risada.

Em comparação com o outro produto de tv universalmente exaltado do nosso tempo, Mad Men, me parece haver um abismo artístico, de ambição e inventividade. Se BB se apóia nos mais velhos truques narrativos da ficção, MM tem essa coisa de ser completamente difusa em relação a acontecimentos: a série é um acúmulo de momentos, relevantes e não relevantes no sentido de plot.

A maior parte desses momentos, aliás, não serve pra nada em termos de trama e a história não anda pra frente, e sim pros lados. Movimentos são percebidos sempre de maneira muito sutil ou então abrupta e aleatória, e não nesse fluxo de ocorrências que caracteriza Breaking Bad. Claro que Mad Men pode ser uma experiência inicialmente muito frustrante, já que não estamos acostumados com essa estrutura literária em televisão, sem falar na direção clínica, distante e desapaixonada, mas é por meio desse caminho torto que ela chega a impactos estéticos diferenciados e inéditos.

Breaking Bad, a despeito da sua excelência artesanal, sempre me deixa essa sensação de que "esse truque eu conheço", por mais tortuosos que sejam os seus golpes de roteiro. Nada contra: às vezes tudo que a gente precisa é de consumir produtos familiares bem executados. Gênero, enfim. Eu, por mim, mal posso esperar pra ver a chapa esquentar mais ainda nas temporadas seguintes.